quinta-feira, 23 de maio de 2013

Covilhã - Inquéritos à Indústria dos Lanifícios XVIII-XVI


Inquérito Social XVI

Continuamos a publicar um inquérito social “Aspectos Sociais da População Fabril da Indústria dos Panos e Subsídios para uma Monografia da mesma Indústria” da autoria de Luiz Fernando Carvalho Dias, realizado em 1937-38.

Salários Familiares

            O salário familiar é aqui a soma dos salários individuais dos membros da Família. Depende da idade dos filhos, do emprego que têm, do auxílio de quaisquer outras pessoas que possam viver no mesmo lar, por razões de sangue. Verifica-se que nos primeiros anos a família numerosa causa grandes embaraços económicos ao operário, mas quando os filhos começam a trabalhar uma réstea de sol ilumina-lhes o lar, amargurado pelas dificuldades de cada dia. Gerralmente as famílias numerosas descuidam, por razões económicas, a educação literária dos primeiros filhos, pela necessidade absoluta de aumentar o salário familiar. Depois de uma certa idade, os filhos começam a ficar com uma parcela do salário ganho para as suas necessidades, daí se vestem e calçam, daí tiram para as suas extravagâncias. O mesmo acontece com as raparigas.
            Dos salários familiares que recolhemos, há-os suficientes, diminutos, miseráveis e raramente bons. Tudo isto nos vem demonstrar que uma medida geral de salários tendente a proteger a família, poderia constituir um benefício incalculável para a população de lanifícios; bastaria estabelecer um salário base, corrigi-lo, posteriormente, segundo as necessidades familiares do operário, sobrecarregando os que não têm família nem filhos, a favor daqueles que cumprem o dever social de aumentar a população, que é a força dos Estados. O patronato contribuiria de uma forma proporcional aos salários pagos, para um fundo donde saíria esse salário familiar. Este benefício não deve provir unicamente do patronato, mas o operário, que dele há-de tirar os benefícios, é justo que para ele também contribua, dentro das suas possibilidades.
            Veremos mais adiante quanto esta medida se torna urgente, para obstar à diminuição de natalidade que se verifica entre a população industrial dos lanifícios. Um filho para uma família que trabalha na indústria representa hoje, pelas circunstâncias económicas em que o trabalho se reparte, mais um encargo que uma riqueza, porque a dificuldade de colocações ao atingir a idade do trabalho, é grande e porque não existe na indústria aquilo a que podemos chamar no campo, o desafogo campestre, que é aproveitar na lavoura caseira o trabalho que não se pode empregar fora.
            Ao tratarmos da família, do trabalho das mulheres e das menores, mais evidente aparecerá a necessidade de proteger a família, não só económica mas social e moralmente.

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Descontos e Abonos de Fazenda e de Dinheiro

            Na indústria de lanifícios há um costume que beneficia bastante a família operária; queremos referir-nos ao abono de dinheiro e fazendas, feito pelo patrão ao operário, à conta de trabalho futuro.
            Estes abonos têm a vantagem de auxiliar grandemente o operário no vestir da sua família, de o ajudar em ocasiões difíceis, de o retirar sobretudo ao domínio pernicioso da usura. Esses abonos são feitos sem desconto de juros..
            Os operários vão descontando todas as semanas, do seu ordenado, uma certa soma para amortizar a sua conta corrente. Nos grémios da Covilhã e, raramente no de Gouveia, é que predomina este costume.
            Por vezes acontece que os operários parecem desconhecer este benefício: abandonam a fábrica antes de ter satisfeito a importância abonada. Para evitar estes abusos criou-se uma ressalva passada pelo patrão primitivo sem a qual o operário não podia ser admitido em qualquer outra fábrica. Os efeitos desta ressalva foram porém nulos porque os industriais continuavam a admiti-los sem ela, demonstrando assim o espírito individualista a que, mais adiante, faremos referência, no capítulo dedicado ao patronato.
            Com a invasão da indústria por uma série de aventureiros, muitos patrões houve deste género, que por excessiva ganância ou impossibilidade económica, deixaram de conceder estes abonos que foram regra geral na indústria dos dois grémios.

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Comparação dos Salários dos Lanifícios com os salários de outras Indústrias e Mesteres

            Não exageramos se afirmarmos que na indústria se cumprem integralmente os salários mínimos, estabelecidos pela circular 5. São estes, portanto, que vão servir de base para se compararem os salários dos lanifícios, com os salários pagos pelas outras indústrias e mesteres, naqueles centros onde floresce a indústria de lanifícios. Os salários dessas profissões e mesteres, são-nos fornecidos pelos nossos boletins de inquérito: não nos limitamos a inquirir o salário do operário em questão, fomos mais longe, procurámos saber qual o salário que auferiam os filhos, os maridos, as esposas e os pais. Conseguimos, assim, abundantes listas de salário que ilustram esta parte do capítulo VIII.
            Seguem-se essas listas de profissões várias e dos salários respectivos, nas diversas regiões.

Lista de alguns salários fora da indústria de lanifícios
na área do Grémio da Covilhã

Lista de alguns salários fora da indústria de lanifícios
na área do Grémio de Gouveia
 

Nota dos editores - Como inserimos as tabelas segundo o sistema de imagem, aconselhamos os nossos leitores a clicarem com o rato sobre elas, para que o visionamento seja mais perfeito.

As Publicações do Blogue:

Capítulos anteriores do Inquérito Social:
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