segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Covilhã - Inquéritos à Indústria dos Lanifícios VII-V


Inquérito Social -  V 

Continuamos a publicar um inquérito social “Aspectos Sociais da População Fabril da Indústria dos Panos e Subsídios para uma Monografia da mesma Indústria” da autoria de Luiz Fernando Carvalho Dias, realizado em 1937-38.
 
Capítulo III 
 
População
 

A população dos lanifícios é, aquando do inquérito, de 12.863 operários dos quais 7.856 são masculinos e 5.007 são femininos. A sua distribuição pelos grémios em que trabalham é a seguinte:
 
 
Encontramos aqui os grémios dispostos pela ordem da sua popula­ção industrial.
 Há que atender que na população do grémio da Covilhã não figuram os tecelões manuais dispersos pelas freguesias do concelho, a não ser os do Teixoso. Não houve possibilidade de os ouvir nem de preencher os boletins de cada um de1es. Se os adicionássemos a esta estatística, o grémio da Covilhã apareceria com a população de 6.620 operários.
Nos outros grémios, como a tecelagem manual em propriedade dos operários é mínima, já houve possibilidade de os ouvir e por isso constam da presente estatística.
Todos estes números revelam a população estável da indústria, porque o preenchimento dos boletins foi realizado numa estação em que o trabalho era diminuto.
É por isso que junto aos boletins de inquérito dalgumas fábricas se tomou nota do número de operários que não responderam ao inquérito por não terem trabalho nessa ocasião. Nas fábricas de Lisboa varia esse número entre 25 e 30 operários.
Os operários de lanifícios são em regra naturais das terras onde trabalham ou dos seus arredores.
Nas listas adjuntas, referentes à naturalidade dos operários po­demos facilmente verificá-lo.
O Grémio do Sul, tendo em vista sobretudo as fábricas de Lisboa, é constituído quase exclusivamente por operários da província. Predominam entre eles as mulheres, que vieram para Lisboa como criadas de servir ou, em pequenas com os pais; aos homens trouxe-os, em geral, o espírito de aventura, as faltas de trabalho, a exiguidade dos salários do campo ou o serviço militar. Vale a pena notar que o número dos operários das regiões industriais, que procuraram em Lisboa a indústria de lanifícios como meio de vida, não é avultado. Correndo as listas é fácil encontrá-los, pois duas cruzes sobrepostas os indicam à atenção do leitor.
A população do Grémio do Norte que trabalha no Porto, tem idêntica origem à da população do Grémio do Sul que trabalha em Lisboa. Nestes dois grémios encontram-se bastantes operários da Covilhã que ocupam, vulgarmente, os lugares de mestres de secção, tecelões, empregados fabris e trabalho especializado exclusivo de mulheres. São geralmente contratados ­para virem ocupar directamente estes lugares. No entanto, nestes dois grémio a população natural da Covilhã, não excede 98 operários.
Vem a propósito dizer, que ao constituir-se uma fábrica no Grémio de Castanheira de Pera, lembraram-se os patrões de recrutar todo o pessoal, para ela, na população da Covilhã. Ao fim de dois ou três anos à excepção de seis, todos os outros tinham voltado à sua terra.
Aqueles que encontramos dispersos pelo país, estavam em boas situações de confiança, mantendo-se por isso afastados do velho burgo industrial, ou estavam casados e tinham constituido família no lugar onde se encontravam e, por isso, lá permaneciam, ou então suspiravam por voltar, mais tarde ou mais cedo ao seu torrão natal.
Apesar do embrutecimento com que a máquina e o excessivo barulho das oficinas lhes martiriza a atenção, em vigilância permanente, nota-se no operário, ausente da sua terra uma sensibilidade tão excessiva que ao falarem dela são incapazes de esconder a saudade.
Do Grémio de Gouveia, andam pelos grémios do Sul e do Norte, cerca de 25 operários. Ao contrário do critério adoptado para a Covi1hã, de que excluímos Cebolais para averiguar o índice de migração,no Grémio de Gouveia não fizemos distinção nenhuma das terras que o constituem. 
 
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Vamos ver agora qual a migração entre os três grémios onde a in­dústria tem raízes profundas, que são a Covilhã, Gouveia e Castanheira de Pera, que o mesmo é estudar quais as relações de população entre eles.
 
Operários da Covilhã em Gouveia …………….. 110
Operários da Covilhã em Castanheira ………        23
Operários de Gouveia em Castanheira ………         4
Operários de Gouveia na Covilhã ………...…     141
Operários de Castanheira na Covilhã ………           2
Operários de Castanheira em Gouveia ………         0
 
O predomínio de operários de Gouveia na Covilhã sobre os da Covilhã em Gouveia  explica-se não só pelo intercâmbio operário entre os dois grémios, mas também por aqueles operários da Covilhã, que tendo vivido em Gouveia, onde lhe nasceram os filhos e depois voltaram à sua terra, esses filhos voltando depois com os pais à Covilhã, aparecem como naturais de Gouveia.
Estas estatísticas revelam que a migração entre os centros fabris é pouco importante.
Para o regime de propriedade das casas económicas pode tirar-se daqui uma razão a favor da instituição do casal de família,com a possibilidade de alienação, nos casos raros em que o operário justificadamente se vê obrigado a abandonar a sua terra.
Ao mudar de terra, os operários de lanifícios procuram quase sempre a sua antiga profissão; se a abandonam é só por falta de trabalho dentro dela ou porque outra mais rendosa lhes apareceu.
Encontram-se trabalhando nas terras seguintes: 

 
Operários naturais das Colónias: 
Avelar  …………………  2
Porto    …………………   2
Lisboa ………………….   2 
 
Operários Brasileiros-Portugueses: 
S. Romão ……………..      1
Trinta …………………      3
Portodinho …………….      2
Avelar …………………      1
Porto …………………...     3
Famalicão ………………    2
Lisboa …………………..    1
Arrentela ………………..    1 
 
Operários nascidos na América do Norte: 
Vodra ……………………    1
Moimenta da Serra ………    1
Sampaio ………………….    7
Famalicão da Serra ……….   1
Gouveia …………………… 
 
 
 
  Seguem as imagens de dois gráficos, também relativos à idade dos operários, que na obra são apresentados em anexo a este capítulo da População. O suporte em que foram elaborados é papel vegetal/pergaminho, ao fim de tantos anos um pouco deteriorado. 
 


 

 
Nota dos editores - Como inserimos as tabelas segundo o sistema de imagem, aconselhamos os nossos leitores a clicarem com o rato sobre elas, para que o visionamento seja mais perfeito.
 
Capítulos anteriores:
Inquéritos III - I
Inquéritos IV - II
Inquéritos V - III
Inquéritos VI - IV
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2012/08/covilha-inqueritos-industria-dos_2.html 

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