quarta-feira, 1 de junho de 2016

Covilhã - Notícias Soltas IV


    O pretexto para esta Notícia Solta é a saída da Carta de Pêro Vaz de Caminha, avaliada em quase 3 milhões de euros, do cofre forte da Torre do Tombo para uma Exposição, no Castelo de Belmonte, de 26 de Abril a 26 de Outubro. Esta Exposição em Belmonte deve-se ao facto de Pedro Álvares Cabral ser natural desta povoação da Beira e Pêro Vaz de Caminha ser escrivão na viagem deste navegador, em 1500.
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 Pedro Álvares Cabral nasceu em 1467 (?) na povoação de Belmonte, na Beira Baixa e morreu, provavelmente em 1520, na cidade de Santarém, no Ribatejo, onde está sepultado na belíssima Igreja da Graça. Alguns dos seus restos mortais estão desde há um século no Rio de Janeiro.
É o descobridor oficial do Brasil. Descendia de uma família nobre, cujas raízes entroncam no seu trisavô Álvaro Gil Cabral (século XIV). O seu bisavô, Luís Álvares Cabral já está ligado à governação de Belmonte. Parece que Pedro A. Cabral saiu ao pai em altura, pois este era conhecido como o “Gigante da Beira” pela sua invulgar estatura, grande corpulência e valentia. Novinho deixou Belmonte e em Lisboa estuda Artes Militares, História, Cosmografia e Marinharia. Nesta época, no Reino, vivem-se já as viagens marítimas e em 1499, depois da chegada da Índia de Vasco da Gama, é nomeado pelo Rei D. Manuel capitão-mor da armada que há-de voltar a Calecut com a missão de estabelecer relações políticas e comerciais, fundando por aquelas paragens o primeiro entreposto comercial português. Também teria sido incumbido de pôr pé no continente brasileiro e oficialmente o publicar, ou teria sido casual a chegada àquelas paragens? Os que acham que foi intencional a rota para ocidente em pleno Oceano Atlântico, defendem que as exigências de D. João II durante as negociações do Tratado de Tordesilhas, a experiência dos marinheiros que iam na frota, o provável conhecimento anterior de terras para Ocidente, só não publicitadas pela política de sigilo devida à concorrência com Castela, Espanha, são a prova disso. Os que pensam que foi casual baseiam-se, por exemplo, na Carta de Pêro Vaz de Caminha que em seguida usaremos. Quando foi nomeado por D. Manuel já várias viagens de conquista e descobrimento tinham sido realizadas, mas a armada de Pedro Álvares Cabral foi a mais bem equipada pois eram dez naus, três caravelas e milhar e meio de homens, alguns, como Bartolomeu Dias, experimentados e conhecedores do mar e dos seus segredos. Vão chegar ao continente sul-americano a que vão chamar Terra ou Ilha de Vera Cruz. Continuam para a Índia, mas antes Álvares Cabral manda regressar a Portugal uma embarcação chefiada por Gaspar Lemos com a boa nova e a importante carta de Pêro Vaz de Caminha, escrivão e testemunha presencial, que encerra notícias importantíssimas de cariz histórico e antropológico. Transcrevemos agora algumas passagens desta Carta dirigida ao Rei D. Manuel:

Os cuidados cm a "Carta de Pêro Vaz de Caminha" na sua chegada a Belmonte

“Senhor, posto que o capitão-mor desta vossa frota e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a nova do achamento desta vossa terra nova, [prova da casualidade?] que se ora nesta navegação achou, não deixarei de dar disso minha conta. …
E assim seguimos nosso caminho … até terça-feira d’oitavas de Páscoa, que foram 21 dias d’Abril, que topámos alguns sinais de terra … os quais eram muita quantidade d’ervas compridas. … E à quarta-feira seguinte, pela manhã, topámos aves. … E neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra, isto é, primeiramente d’um grande monte, mui alto e redondo, e d’outras serras mais baixas a sul dele e de terra chã com grandes arvoredos, ao qual monte alto o capitão pôs nome o Monte Pascoal e à terra a Terra de Vera Cruz. …
[5ª feira, 23 de Abril] E dali houvemos vista d’homens, que andavam pela praia, de 7 ou 8. … E o capitão mandou no batel, em terra, Nicolau Coelho, para ver aquele rio…. Eram ali 18 ou 20 homens, pardos, todos nus, sem nenhuma cousa que lhes cobrisse suas vergonhas. Traziam arcos nas mãos e suas setas… Somente deu-lhes um barrete vermelho e uma carapuça de linho, que levava na cabeça, e um sombreiro preto. E um deles lhe deu um sombreiro de penas d’aves, compridas, com uma copazinha pequena de penas vermelhas e parda, como de papagaio. … E tomou em uma almadia dous daqueles homens da terra, mancebos e de bons corpos. … Trouve-os logo, já de noute, ao capitão, onde foram recebidos com muito prazer e festa. … Traziam ambos os beiços de baixo furados e metido por eles um osso branco de comprimento duma mão travessa… Os cabelos seus são corredios e andavam tosquiados de tosquia alta mais que de sobre-pente, de boa grandura e rapados até por cima das orelhas. ... Acenderam tochas e entraram e não fizeram nenhuma menção de cortesia nem de falar ao capitão nem a ninguém. Um deles, porém, pôs olho no colar do capitão e começou d’acenar com a mão para terra e despois para o colar, como que nos dizia que havia em terra ouro. E também um castiçal de prata…um papagaio pardo…um carneiro, não fizeram dele menção. Mostraram-lhes uma galinha, quase haviam medo dela. ... Andavam ali muitos deles. … Ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem moças e bem gentis, com cabelos muito pretos, compridos, pelas espáduas; e suas vergonhas tão altas e tão çarradinhas e tão limpas das cabeleiras que de as nós muito bem olharmos não tínhamos nenhuma vergonha…
[Domingo, 26 de Abril] Ao domingo de Pascoela, pela manhã, determinou o capitão d’ir ouvir missa e pregação naquele ilhéu….
Beijo as mãos de vossa Alteza. Deste Porto Seguro, da vossa ilha da Vera Cruz, hoje, sexta-feira, primeiro dia de Maio de 1500. Pêro Vaz de Caminha”

No nosso blogue temos várias reflexões de Luiz Fernando Carvalho Dias sobre Pedro Álvares Cabral e Belmonte:
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2015/01/covilha-pedro-alvares-cabral-e-belmonte.html
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2014/12/covilha-pedro-alvares-cabral-e-belmonte.html
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2013/12/covilha-pedro-alvares-cabral-e-belmonte.html
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2011/08/covilha-pedro-alvares-cabral-e-belmonte.html


No nosso blogue:
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2016/04/covilha-noticias-soltas-iii.html
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2016/03/covilha-noticias-soltas-ii.html
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2015/12/covilha-noticias-soltas.html


2 comentários:

  1. Excelente pesquisa e texto muito bem fundamentado. Deve ser recomendado como rica fonte para estudantes e pesquisadores da História das relações de Portugal e o mundo.

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  2. Obrigada, Ana Holmes. O nosso pai e sogro foi um grande investigador de História, tendo deixado um diversificado espólio que temos procurado publicar.

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