sábado, 21 de fevereiro de 2015

Covilhã - Frei Heitor Pinto I

   O nosso blogue vive do espólio de Luiz Fernando Carvalho Dias, que continuamos a explorar e divulgar. Sempre soubemos o interesse do investigador por Frei Heitor Pinto, que deu origem em 1952 à publicação de "Fr. Heitor Pinto (Novas Achegas para a sua Biografia)", a 1ª da sua vasta obra. 
  Aquando das comemorações do IV centenário da morte do frade jerónimo, que se realizaram na Covilhã a 2 de Dezembro de 1984, empenhou-se totalmente para que a figura de Frei Heitor fosse mais divulgada.



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    A propósito de monografias, Luiz Fernando Carvalho Dias lembrou Frei Heitor Pinto:
[...] “Não ainda em monografia, mas como simples descrição, registo a primeira imagem da Covilhã em forma literária. Cabe ao nosso Frei Heitor Pinto, o escritor português mais divulgado e com mais edições no século XVI. Trata-se de uma imagem enternecida, como que uma saudade de peregrino a adivinhar exílios, muito embora a abundância dos adjectivos desmereça da evocação:

 “ … Inexpugnável por fortes e altos muros, situada num lugar alto e desabafado e de singular vista, entre duas frescas e perenais ribeiras, com a infinidade de frias e excelentes fontes e cercada de deleitosos e frutíferos arvoredos. […] 

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    Hoje começamos a publicar informações sobre Frei Heitor Pinto. Baseamo-nos em reflexões de Luiz Fernando Carvalho Dias, em fotografias e textos da Exposição de 1984 e na sua obra sobre Frei Heitor Pinto. Esta Exposição Bibliográfico-Documental foi inaugurada no átrio da Câmara Municipal no dia 2 de Dezembro de 1984 e antecedeu uma Sessão Solene comemorativa do IV Centenário da Morte de Frei Heitor Pinto.
  Não estivemos presentes, mas sabemos que o investigador covilhanense terá feito a apresentação da pintura a óleo de Frei Heitor Pinto, que se encontrava na Câmara Municipal da Covilhã. Vejamos os tópicos que encontrámos:

“O retrato de Fr. Heitor Pinto
Retrato do sec. XVIII. Possivelmente influência da acção da Academia de História e da Obra Monumental do Abade de Sever com a sua Biblioteca Lusitana.
Presumimos que o retrato é o do Mosteiro de Belém ou nele inspirado. Como ele existe outro, repintadíssimo, na Faculdade de Letras de Coimbra. História dos Retratos. Mas nada nos garante que seja a vera efígie do hironimita.
O retrato da Biblioteca Nacional que Inocêncio refere, ou desapareceu ou está invisível.
Este foi oferecido pelo Dr. Alberto Osório de Castro ao Dr. Hipólito Raposo. O Dr. Hipólito Raposo tinha uma grande veneração e respeito por Fr. Heitor Pinto. Impressionava-o sobretudo o escritor clássico - o Beirão duro que não verga e o patriota ardente. Na verdade havia em Hipólito Raposo e Heitor Pinto estes três traços comuns.
Desconhecia o meu inesquecível mestre e amigo - porque Hipólito Raposo cultivava a amizade dos seus discípulos - outros possíveis pontos de contacto que eu mais tarde desvendei. Possíveis laços familiares do escritor com S. Vicente da Beira, com os Homens de Brito de S. Vicente da Beira, da Covilhã e do Fundão.
De facto no século XVII esta família usa muito o nome e apelido de Heitor Pinto Cardoso, e apelido Botelho; o de Rodrigo Homem, inculcado como irmão de Fr. Heitor Pinto, e que em 1529, como moço da Câmara del Rei D. João III, é uma das testemunhas do contrato das sisas da Covilhã.

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    Juntamente com a inauguração do retrato quiz a Câmara Municipal da Covilhã que se organizasse uma pequena exposição que lembrasse aos covilhanenses de hoje o seu ínclito conterrâneo.
Que contém essa exposição? Fotografias de alguns documentos relacionados com (os) factos mais salientes da vida de Fr. Heitor Pinto:
a) sua profissão em Belém (Mosteiro dos Jerónimos) e o interesse que este documento tem para fixar a sua naturalidade.
b) Os documentos da sua questão com a Universidade de Salamanca onde pretendeu reger uma cadeira de exegese bíblica. Esta questão revela-nos um Fr. Heitor Pinto familiarizado com as altas questões científicas da sua época: a exegese biblica feita através da linguística e o rejuvenescimento dos textos através da nova interpretação.
c) Os documentos do seu doutoramento em Siguenza. Note-se que Fr. Heitor Pinto se apresenta em Siguenza, não como estudante dessa Universidade, mas com a prova dos seus cursos de Coimbra. Embora Doutor em Siguenza, estudou em Portugal começando por Guimarães no Convento da Costa, após uma acidental passagem pelos claustros de Salamanca e de Coimbra, discente de Artes e de Leis, frequentou depois as lições de vários mestres de Artes e Teologia em Santa Cruz de Coimbra e nos Gerais da mesma Universidade.
Frei Heitor Pinto, escritor de primeira plana e teólogo de categoria europeia, é filho da nossa Universidade, da hoje tão caluniada Universidade Portuguesa.
d) Também a exposição oferece fotocópias dos documentos da prisão de Heitor Pinto. Todos nós temos muita honra que Fr. Heitor tenha sacrificado a sua vida pela independência da Pátria e creio que não  atraiçoo a sua memória, lembrando nesta hora como um dos seus títulos de glória.
e) As edições de Fr. Heitor Pinto, a sua variedade e o seu volume, demonstram a categoria do escritor e como a Europa culta, mesmo depois do seu desterro, ficou fiel ao seu ensinamento e presa da elegância e do valor do seu verbo. Pode-se dizer que Heitor Pinto é dos poucos escritores portugueses do século XVI que vê multiplicarem-se as edições das suas obras nos prelos portugueses e espanhóis, franceses, italianos e flamengos. (Mais tarde apresentaremos uma lista das edições das suas obras).
f) Alguns livros mostram como Heitor Pinto foi lembrado pelos seus conterrâneos através de memórias, jornais, monografias e outros escritos.”

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Integrada nas comemorações do covilhanense Frei Heitor Pinto, foi ainda celebrada uma missa no dia 19 de Agosto de 1984, onde no meio dos presentes descortinamos Luiz Fernando Carvalho Dias:

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