domingo, 13 de outubro de 2013

Covilhã - Inquéritos à Indústria dos Lanifícios XXII-XX

Inquérito Social XX

  Continuamos a publicar um inquérito social “Aspectos Sociais da População Fabril da Indústria dos Panos e Subsídios para uma Monografia da mesma Indústria” da autoria de Luiz Fernando Carvalho Dias realizado em 1937-38.

Capítulo X

FAMÍLIA
(Continuação)

           É agora ocasião de fazer referência ao trabalho das mulheres dentro da indústria de lanifícios. A posição da mulher na família tem uma grande importância para o estudo moral, social e económico de uma população.
            A mulher que trabalha nas fábricas sofre vulgarmente uma desvalorização na sua consciência moral, começa a olhar a vida com óculos diferentes; ganhando para si, sente necessidade de maior independência, levando-a, por isso, a não ligar a certos conceitos sociais e morais; afasta-se da vida familiar, acostumando-se a certa liberdade que na família não pode ter; fazendo uma concorrência ao trabalho do homem provoca um aviltamento de salários.
            Na sequência do exposto, vamos comparar a mão de obra masculina com a mão de obra feminina, tendo em vista a população de cada grémio:


            Portanto concluimos daqui que a mão de obra feminina nos grémios do norte e do sul é superior à mão de obra masculina. O grémio da Covilhã é aquele onde, em proporção, a mão de obra feminina é menor. Para que a percentagem da mão de obra feminina no grémio do Sul fosse proporcional à da Covilhã, era preciso que em vez das 1.576 mulheres que nele trabalham, trabalhassem 703. Na Covilhã há profissões exclusivamente para homens, como a tecelagem e a tinturaria. Conviria, até por uma razão de justiça económica, sem havermos de atender ao ponto de vista moral, determinar que certas profissões fossem reservadas exclusivamente para os homens; naqueles centros em que não houvesse um número de homens suficiente para as preencher, recorrer-se-ia ao trabalho feminino, remunerado, porém, como se os assalariados fossem masculinos. Evitar-se ia, assim, que o aumento do trabalho feminino conduzisse ao aviltamento de salários.
            A protecção ao trabalho masculino equivale ainda a uma consequente protecção da família, pois dá azo a que novas famílias se constituam e, daí, a um aumento da população.
            Vamos agora desdobrar a estatística do trabalho feminino acima publicado.

           
                       Conclui-se que, mesmo depois de feita a discriminação das três alíneas, a Covilhã continua a ser a região do país onde, em proporção, o trabalho feminino é menos explorado.
            A classe A (<18 anos) é constituída, geralmente, por filhas de família: pretendem com o seu trabalho aumentar o salário familiar. Dão quase todo o salário aos pais.
            A classe B (Solteiras >18 anos) é constituída por operárias solteiras com mais de 18 anos: sendo filhas de família pagam aos pais uma certa quantia pela alimentação, guardando o resto para vestir e calçar e outros extraordinários, entre os quais, predomina o luxo; operárias solteiras, com filhos, que trabalham para o sustento próprio e dos filhos, e que vivem com estes; operárias solteiras sem encargos de família, que vivem unicamente do seu trabalho.
            A classe C (Mulheres em estado conjugal) é constituída por aquelas mulheres que vivem em estado matrimonial e trabalham nas fábricas, ou porque o trabalho do homem é diminuto, ou porque este não trabalha; é constituída ainda por aquelas cujos maridos trabalham, mas pelo facto do casal não ter filhos, ou tê-los já criados, não é essencial em casa a sua presença e por aquelas mulheres cujos maridos emigraram.

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            Na classe C fizemos referência a todas as mulheres em estado matrimonial que vivem na indústria dos lanifícios. Nesse número estavam, portanto, incluídas as mulheres dos operários que trabalham na indústria. Mas como tem interesse saber-se separadamente o seu número, vamos apresentá-lo em seguida:

Covilhã ........... 255
Gouveia ...........145
Sul ...................105
Castanheira ...... 28
Norte ................ 27

            
As 255 mulheres, casadas com operários de lanifícios, no grémio da Covilhã, são, em geral, mulheres casadas há pouco tempo; mulheres sem filhos, mulheres com maridos inválidos ou desempregados; mulheres cujos maridos são pegadores de fios; e mulheres que trabalham em casa, em serviços industriais de espinça ou meter fios.
Nos outros grémios as mulheres dos operários empregam-se por razões idênticas.

No grémio de Gouveia existem bastantes mulheres que saíram da fábrica quando casaram, mas que voltaram a ela pela emigração dos maridos.

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            Casais sem filhos
           
            Segue-se uma estatística dos operários sem filhos que vivem em estado matrimonial. Encontram-se nestas circunstâncias 1.341 operários. Predominam entre eles os que têm menos de 40 anos de idade, pelo que somos levados a concluir que a maioria deles casou há pouco tempo e que, em nova estatística entrariam já no número dos operários casados, com filhos. Nos boletins destes operários encontra-se muitas vezes em resposta à pergunta “tem filhos?”, esta expressão: “em vésperas” e “a mulher está grávida”.
            Na estatística presente aparecem os operários em questão, separados pela idade e pelo sexo:



            A distribuição dos casais sem filhos, conforme o estado civil, pode consultar-se no final deste capítulo.

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            Casais com filhos

            Procurou-se com as estatísticas dos casais com filhos, dar à FNIL a possibilidade de calcular, em qualquer momento, os encargos que um salário familiar poderia acarretar e ao mesmo tempo mostrar neste inquérito, a constituição da família operária e o seu possível aumento.       

            Já ficou transcrita atrás a idade dos operários casados, sem filhos, passamos, por isso, a apresentar uma estatística referente à idade dos operários que vivem em estado matrimonial e têm filhos:


(Continua)


Nota dos editores - Como inserimos as tabelas segundo o sistema de imagem, aconselhamos os nossos leitores a clicarem com o rato sobre elas, para que o visionamento seja mais perfeito.

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