quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Covilhã - Inquéritos à Indústria dos Lanifícios XI-IX


Inquérito Social IX

Continuamos a publicar um inquérito social “Aspectos Sociais da População Fabril da Indústria dos Panos e Subsídios para uma Monografia da mesma Indústria” da autoria de Luiz Fernando Carvalho Dias, realizado em 1937-38.

Anexos:
Breve Notícia dos Operários de Lanifícios
com mais de 20 anos de trabalho industrial ou com mais de 60 anos de idade
(De 5 em 5 anos)
1937
 
Nota dos editores - Como inserimos as tabelas segundo o sistema de imagem, aconselhamos os nossos leitores a clicarem com o rato sobre elas, para que o visionamento seja mais perfeito. 
 
As Publicações do Blogue:
Capítulos anteriores do Inquérito Social:
Inquéritos III - I
Inquéritos IV - II
Inquéritos V - III
Inquéritos VI - IV
Inquéritos X - VIII  

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Covilhã - Os Tombos II


    Vamos continuar a publicar tombos de várias instituições da Covilhã e seu termo. Já publicámos os tombos dos bens da Misericórdia e os de Santa Maria da Estrela existentes no espólio de Luiz Fernando Carvalho Dias, bem como as Inquirições de D. Dinis relativas ao Julgado da Covilhã e de Belmonte.
Hoje publicamos parte do Tombo da Comarca da Beira/Inquirição de D. João I. Nos dados do ANTT, lê-se que esta “inquirição e demarcação elaborada em virtude de uma provisão régia de 1395, contém o traslado de forais e de direitos reais relativo” a várias terras, como Covilhã e seu termo.


Uma panorâmica da Cova da Beira
(Fotografia de Miguel Nuno Peixoto de Carvalho Dias)

 
O Concelho da Covilhã actualmente
 
Tombo da Comarca da Beira/Inquirição de D. João I 

Titulo da Couilhaa 

      O dicto Roy peres e eu aluaro peres escripvam nos Regengos do dicto Senhor chegamos a couilhaa a enquerer e demarcar as casas e vinhas e soutos e herdades que o dicto Senhor há em a dicta villa e em seus termos E outro sy as rendas e direitos e pêra esto fez a elo vijr presentes Diego gonçallves juiz da dicta villa e vaasco Martinz e Gil viçente vereadores e viçente vaasquez procurador e Gonçale Eanes e Rodrigaluarez e giral perez e viçente annes Tabaliaes desa mesma e outros homees boos antigos pêra lhe dizerem per onde estam as dictas casas e vinhas e soutos e herdades e com quem partijam e outrosy que direitos auia hy El Rey aos quaaes fez pergunta que lho disesem pêra ell todo pooer em recadaçom segundo lhe per El Rey era mandado os quaees juiz e vereadores e procurador e Tabalijaes e homees boos diserom que auia El Rey na dicta vila e termo estas cousas que se adeante segem.
Primeiramente portagem que se tira per esta – da carega do coelho e seuo e azeite e hunto e panos de coor e cera e pez da major v. soldos e da meor dous soldos e meio.
- da carega da lhaa e burel.
- da carega mayor do pam e do vinho III. mealhas e da meor outro tanto.
- do coleiro de pam e do vinho do priom j. dinheiro. – do coleiro de qualquer pano salvo se for pano de coor. – j. soldo.
- do boy e da uaco . – vj. Dinheiros.
- do caualo e da muua que se vender. j. soldo e do asno . – vj. dinheiros.
- do carneiro e da ouelha – ij. dinheiros
- da cabra e do cabrom – ij. dinheiros
- do porco e da porca – ij. dinheiros
- do cabrito e do cordeiro . – iij. mealhas
- da casa mouda – xv. soldos
- do mouro que se remyr pagara a dizima e o que o comprar – xv. soldos
- das molheres mundayras – cada huma pagara cada mês – j. soldo
- do mordomado de quanto penhorar o moordomo de tanto leuara a dizima das coomhias quem ferjr com coitelo pagara v. maravedis saluo se o ferir a direito.
- estas som as casas que foy achado que El Rey há na dicta villa de couilhaa primeiramente hua casa na Rua da piltraria como parte pela dicta Rua e da parte de cima parte com Diego gonçallvez e da outra parte de contra a fomte outro sy parte com o dicto Diego gonçallvez per hua azinhagaa que he fecta em casa e parte da outra com vaasco dominguez de carya da qual casa he a metade sobradada he esta emprazada a pero fernandez çapateiro por iiijº libras e quarta de moeda antiga.
- huu chaao a porta de Linhares em que em outro tempo esteuerom duas casas e forom ribadas na gera o qual parte da parte de cima contra a bareira com chaao que foram cassas de Gonçalo apariço e pela Rua do concelho e da parte de fundo parte com chaao que forom cassas de Gonçalo Eanes çapateiro e pela Ruua do concelho e da outra com chaao que forom casas de bertolameu dominguiz fereiro.
- outro chaao que foy casa na freguesia de Santiago que parte pela Rua do concelho e com casa dafonsy Eanes e com casa de Margarida anes que ora he paradeiro o qual ora traz emprazada Gonçalo Eanes tabaliom por x. soldos em cada huu ano de moeda antiga.
- huu paradeiro que foy casa na freguesia de Sam domjgos com seu eixido e no qual eixido estam hua videira feral e huua figeira e hua maçeira e três mil gradeiras o qual parte com casa do espernegado e pela Ruua do concelho e com paradeiros da madanela o qual he aforado a Johã Afonso por xv. soldos em cada huu ano de moeda antiga.
- hua meia casa na freguesia de Sam Joham do esprital que parte com Rua do concelho e parte com casa de lourençe anes e com eixido de Joham Afonso e com casa dafonse annes clerigo E tragea este afonse annes clerigo emprazada por …. Na freguisia de sam Joham do esprital huu paradeiro que foy casa o qual parte com casa de vaasco fernandez e da outra parte com o dicto Vasco fernandez e com Rua do concelhõ.
- huu Sotom na judaria que parte com Mose fereiro e com juça fereiro e de fundo e de cima parte com Ruas do concelho ho qual sotom he emprazado ao dicto mose fereiro por xx. soldos de moeda antiga em cada huu anno.
- hua casa do forno dos moogos que parte das duas partes com Ruas do concelho e da outra com casa da ferarija de Sam Paulo e com casa de giralda Vicente tragea Gonçalo afomso emprazada por x. soldos de moeda antiga em cada huu anno.
- hua meia de hua casa na Rua das ochauas a qual parte de duas partes com cassas de Rodrige anes Tabaliom e pela Rua do concelho e da outra parte tem huu pequeno eixido que parte com chaao do cabido da guarda e foy achado per verdade de giral perez tabaliom que era a meatade da dicta casa hua braça e outro sy o eixido outro tanto emprazada ao dicto Rodrige anes tabaliom e a todos seus soçesores pêra sempre por xx. soldos de moeda antiga em cada huu anno per carta del Rey dom afomso.
- huu chaao onde chamam a olaria velha o qual parte da parte de cima per huu aliçese com Vicente anes tabaliom e com chaao da ejgreia de Santamdre per huu aliçese e da parte de fundo parte pelo camynho do concelho e per hua parede parte com vaasco dominguiz çapateiro ho qual he em ancho v. pasadas e em longo ix. pasadas emprazado a viçente anes tabaliom e a sa molher aldonça afomso em dias de sãs vidas por v. soldos em cada huu anno de moeda antiga ou a çinquo por hua desta moeda que ora core de x. soldos por real.
- huu chaao dentro na dicta vila o qual parte com adega da eigreia de sancta Maria e da parte de cima parte com Ruas do concelho e da outra parte com chaao de Gonçalo fernandez clérigo o qual chaao esta tapado sobre sy que ora he chentado doliual.
- hua casa pequenha na traves de cima da Rua das ochauas que parte com cassas que forom de Rodrige anes que ora som de luzia lourença que foy sa molher e de seus filhos e da parte de contra cima parte com casas que forom de vaasco fernandez e pela Rua do conçelho a qual casa he aforada pêra sempre a dicta luzia lourença pelo dicto Roj perez por ij soldos de moeda antiga em cada huu anno ou a v. por hua que ade pagar por primeiro dia de setembro com condiçom que refaça a dicta casa de paredes e de telha que auya mester de se reparar fecto o prazo per my aluaro perez escripvam.

Vila do Carvalho actualmente
(In EB1)
 
- a el Rey na aldeia do carualho termo da dicta vila de couilhaa hum chaão que parte com terra de Martjm anes do dicto logo e com domingos dominguiz de moreyra e com catalinha esteuez e com antonjo perez e com Martjm annes sobredicto e com tera da confraria do dicto logo e com tera da molher de vaasco perez e pela careyra do concelho no qual chaao esta hua figeyra coryga e huu castinheiro e hua re…. leuara em semeadura j. alqueire de linhaça o qual chaao foy arendado por xxx anos pelo dicto Roy perez a Martim perez piliteiro de couilhaa por v. soldos em cada huu anno de moeda antiga ou a v. por …..
 
Teixoso actualmente
 - El Rey no teixuso termo de couilhaa estas vinhas e soutos e herdades que se adeante segem primeiramente adende chamam o ameal tem hua coirela de vinha a qual parte com vinha de Martim dominguiz e com chaao dantom esteuez e como estesta em cima no camjnho do concelho e em fundo emtesta no Ribeiro E na qual cojrela estam dous pees de figeiras com huu chaao e a que tem vinha he cauadura de huu homem a qual he demarcada de cada parte com três marcos.
- tem outra coirela no dicto logo a qual parte com vinhas dos sobredictos antom estevez e de Martim dominguiz a qual de demarcada per fundo per marcos e emtesta no Ribeiro que vay pêra a dicta aldeia e parte com Gonçalo dominguiz a qual coirela he cauadura de huu homem.
- Acima destas coirellas de suso escritas jndo pelo Ribeiro acima tem o dicto Senhor Rey quatro pees de castinheiros os quaees partem pelo Ribeiro de fizijs e da outra com jurgo dominguiz e com o prianho.
- tem huu castinheiro que esta sobrello camjnho que vay pêra as dictas vinhas junto com o Rego do concelho e com o castinheiro da parçaria que esta junto com pomar de Johã dominguiz.
- Tem outro castinheiro a soeste de suso escrito que parte com souto de Sauaschaao Martinz e com souto dafonse annes estas coirelas e soutos estam acima do teixuso contra a sera.
- tem hua cojrela de cima do carapatello que foy vinha que iaz antre as vinhas do teixuso a qual parte per cima per huu aliçese per hua Mouta de carualhos onde estam dous marcos e como parte jndo pera fundo com vinhas do cabido que traz Vasco fernandez o moço e da outra parte com hermaas dafomso viçente do teixhoso filho do mimoso e da outra parte emtesta em vinhas de Lourenço gonçallvez e de perantom do dicto logo … cojrela he demarcada pelas dictas deuisooes ao dizer de dedomjngos carualhosso e de Joham dominguiz de teixhoso homees antigos jurados aos auangelhos que lhe pera ello foy dado.
- hua cojrela de linhar que iaz no dicto logo do carapatelo que parte com os filhos daçameira e com Mateus moradores no dicto logo do carapatello e da parte de cima com stevam rodigez e per fundo parte pelo Rjo E a qual cojrela esta hua nogejra a par do dicto Rjoo E na qual o vij, pasadas em ancho da parte de fundo e em longo xvij pasadas e da parte de cima ao traues onze pasadas e foy apreçada que leuarya em semeadura j. alqueire de linhaça.
- tem outra cojrela na dicta várzea do carapatelo de linhar que parte com çameira e com Afonso viçente a qual he em fundo tres pasadas contra o Rijo e da parte de cima três sic pasadas e em longo xvij. pasadas e tem quinhom em duas nogejras hua esta em cima da coirela e em outra nogejra que esta a fundo na lejra do Rjo e foj apreçada que leuaria em semeadura j. alqueire de linhaça.
- outra cojrela de chaao que iaz a soo carapatelo que parte per o camjnho que vaj per a vila de couilhaa e com cojrela da ejgreia do teixhoso e com vjnha de Mateus e pela Ribeyra do dicto logo do carapatello a qual he em longo xv pasadas e em ancho noue pasadas e foj apreçada que leuaria em semeadura j. alqueire de ljnhaça.  
- outra cojrela derdade que foj vinha a fundo desta de suso dicta que parte com vjnhas de domingos gonçallvez e de Mateus e com Lourenço gonçallvez e de Joham do carualho a qual he em longo lxx pasadas e em ancho xv pasadas e foj apreçada que leuaria em semeadura tres meios de linhaça.
- outra courela de vinha morta que iaz na varzea do dicto logo do carapatelo que parte com vinha do pianho e em cjma com Margarida do carapatelo e em fundo parte com o dicto pianho e com o careiro a qual he em longo sateenta e sete pasadas e em ancho xvij pasadas e foj apreçada que.
- outra cojrella de chaao nos Linhares do carapatelo que parte com pêro fernandez e com Margarida do carapatello e pela Ribeira e da outra per o Ribeiro dauga com que regam os campos a qual coirela he em longo lxª. pasadas e em ancho quatro pasadas e foj apreçada que leuaria em semeadura alqueire e meio de linhaça.
- tem outra cojrela no dicto logo com hua nogeira em cima da Ribeira a qual parte com viçente dominguiz prianho e com domingos perez e pelo dicto Ribeiro e da outra per a dicta Ribeyra a qual he em longo noueenta e iiijº pasadas e duas pasadas em ancho e foj aperçada que leuaria em semeadura alqueire e meio de linhaça.
- outra cojrela derdade que esta a soo dicto logo do carapatello que parte com domjngas çameira da hua parte e da outra com Gonçalo filho de Margarida do dicto logo do carapatello e pela Rjbeira que vem pelo dicto logo e pelo camjnho que vem da dicta aldeia per o couilhaa na qual cojrela ha em ancho xxvj pasadas e foj aperçada que leuaria em semeadura x. alqueires de pam e que poderia dar de nouidade seendo aprofeitada dando deus pam na terra lx. alqueires por que na dicta cojrela esta hua peça grande de lamejra E por ello nom foj medida do longo.   
 
 
Trabalhos agrícolas - Iluminura do "Apocalipse" de Lorvão

- tem outra cojrela de herdade alem do dicto Rjo acima contra os montes e foj apreçada que leuaria em semeadura ij. alqueires de pam e que poderia dar de nouidade seendo aprofeitada xij. alqueires a qual parte com Maria esteuez e com Domingas çameira e com Matos e com antonjo afonso do carapatello as quaees herdades de vinhas e soutos e herdades lauradas do teixhoso e do carapatelo de suso espritas foram arendadas per o dicto Roy perez a Martim perez piliteiro morador em couilhaa por trjnta annos por três libras de moeda antiga em cada huu anno ou a cjnquo por hua com condiçom que faça e chente a cojrela que iaz açima do carapatello que iaz antre as vinhas do teixhoso que a chente de Bacelo e a faca em vjnha como sooeia a seer em antes fecto todo per estromento per mj aluaro perez escprivam.
- hua coirela de vinha que iaz antre as vinhas da uila de couilhaa onde chamam o conchouso e parte com vinha de pêro dominguiz craspo e com vinha de sam bertolameu e como entesta em fundo no camjnho prubrico e como vaj entestar da parte de çima no monte e foj apreçada que leuaria vj. homes em cauadura e tragea enprazada pero dominguiz conqueiro morador no çarzedo termo de valhelhas por três libras de moeda antiga que dela há de pagar em cada huu anno del Rey.
- outra coirela de vinha onde chamam Rio de moynhos e parte com vinha de lourençe anes ovelheiro e com vjnha da confraria dos clerigos e com vinha de steuom perez das ochauas e com vinhas que forom de Joham françisco que moraua na fregusja de Santa Marjnha e foy apreçada que leuaria em cauadura xij. homees e que poderia dar de nouidade dando deus vjnho nas vinhas iiij. moios aforada por xxx. annos a juça adida judeu morador em coujlhaa por iiijº libras em cada huu anno de moeda antiga que ade pagar primo dia de San Johane bautista a el Rey ao seu almoxarife em paz e em saluo na cidade da guarda.
- huu chaao que iaz a saa dicta villa de couilhaa a so santamdre soo camjnho da olaria e parte pelo dicto camjnho e entesta com herdade de vaasco dominguiz çapatejro e da outra parte com filhos de patarache e da outra com afomso dominguiz çapateiro o qual he em ancho vj. pasadas e em longo xij. pasadas.
- outro chaao a par deste suso escrito a par da ejgreia de samtandre que parte pelo sobredicto caminho da olaria e parte per fundo com figeyredo de Diego gonçalluez e com canpo de domingos do paaço o qual he tapado de parede e he em longo xiiij. pasadas e em ancho três pasadas os quaees chaaos anbos sobre dictos traz o Diego gonçallvez morador na dicta villa enprazados pera senpre por viij. soldos de moeda antiga em cada huu anno que ade pagar a El Rey por dia de Sam Johane bautista .
- hua coirela onde chamam o Arjzado que parte com catalynha annes e per fundo com vinha de Rodrigaluarez tabaliom e da outra parte pelo caminho do Conçelho e da outra pelo Ribejro.
- outra cojrela que iaz a par deste chaao de suso escrito que parte com chaao daluaro Rodominguiz de ualhelhas e com vinha que foy do priol de Sam viçente e estam em el hua nogejra e duas figejras.
- outra cojrella a par desta sobre dicta que parte com chaao daluaro Rodominguiz de ualhelhas e como parte per çima pelo tornadoyro dauga as quaees cojrelas som enenprazadas aluaro gonçallvez de coujlhaa trjnta soldos de moeda antyga que em cada huu anno delas há de pagar a el Rey.
- huu souto onde chamam a enfesta que parte com souto que foy de Joham afomso tello e com giral perez tabaliom e como se vaj entestar nos montes e da outra parte com a molher que foy de Joham badalo o qual souto traz emprazado Gonçalle anes tabaliom por xx. soldos em cada huu anno de moeda antiga.
- huu meio de huu souto com a eygreia da madanella onde chamam o frausto e parte com souto de Sam Joham do esprital e com souto de Gonçalo perez  craspo.
                                                                    (Continua)
 
Nota dos editores – Apresentaremos em Tombos III a conclusão desta Inquirição, feita no Fundão, em Valverde, em Belmonte, em Enxames e em Penamacor.

Fonte – ANTT – Tombo da Comarca da Beira, Lº 46, fls. 73.
Acima está a cota antiga. A cota actual é: Contos do Reino e Casa, Núcleo Antigo, 292
Código de Referência: PT/CRC/A/1/292
 

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Covilhã - Lista dos Sentenciados na Inquisição XLIII


Lista dos Sentenciados no Tribunal do Santo Ofício da Inquisição de Lisboa, Coimbra e Évora, originários ou moradores no antigo termo da Covilhã e nos concelhos limítrofes de Belmonte e Manteigas.

861        Brites Mendes, x.n., de 21 anos, solteira, natural e moradora na Covilhã, filha de Rafael Alonso, x.n., sem ofício, natural de Castela e de Brites Mendes, x.n., neta paterna de Gabriel Alonso, natural de Madrid, Espanha e Ana Maria, natural de Alcórcoa, Madrid, e materna de Pedro Lopes, natural de Monsanto e Isabel Mendes, natural de Idanha-a-Nova, bisneta de Pedro Lopes e Isabel Rodrigues, pais do avô materno; de Gaspar Mendes e Maria Vargas, pais da avó materna; trisneta de João Lopes e Maria Rodrigues, pais do bisavô Pedro Lopes; de Manuel Fernandes e Leonor Rodrigues, pais da bisavó Isabel Rodrigues; de Marcos Mendes e Isabel Mendes, pais do bisavô Gaspar Mendes; e de António Rodrigues e Isabel Nunes, pais da bisavó Maria Vargas, (O pai, a mãe e os irmãos são os referidos sob os nºs 564, 568, 839, 854 e 860 desta lista), em 21/3/1729.
PT-TT-TSO/IL/28/6657                    

862      Francisco Nunes de Paiva, x.n., de 30 anos, tratante, natural de Penamacor e morador em Alpedrinha, filho de Gaspar Rodrigues de Paiva, x.n., tratante e de Isabel Henriques, x.n., casado com Maria Mendes, (O filho é o referido sob o nº 971 desta lista), de 21/7/1727 a 16/10/1752.
PT-TT-TSO/IL/28/8381                    

863      Ana Henriques, x.n., de 16 anos, solteira, natural e moradora na Covilhã, filha de Francisco Nunes ou Francisco Nunes de Paiva, x.n., cirurgião e de Leonor Henriques, x.n.,  neta paterna de Gaspar Rodrigues e de Leonor Henriques e  materna de Manuel Nunes Sanches, x.n., médico, natural de Idanha-a-Nova e de Guiomar Nunes, natural de Monsanto, moradores que foram na Idanha e em Alpedrinha, bisneta de Henrique Fróis e de Maria Nunes, pais do avô materno e de Marcos Mendes e de Violante Rodrigues, pais da avó materna, (O pai, a mãe e os irmãos são os referidos sob os nºs 524, 875, 848, 850, 853, 866, 905, 950, 968 e 976 desta lista), de 29/12/1729 a 3/1/1730.
PT-TT-TSO/IL/28/6931                   

864      Antónia Nunes, x.n., de 40 anos, natural da Covilhã e moradora em Monsanto, filha de Sebastião Lopes Casado, x.n., natural da Covilhã e de Maria Nunes, x.n., natural de S. Vicente da Beira, moradores que foram na Covilhã, casada com Manuel Henriques, x.n., ferreiro, neta paterna de Francisco Rodrigues Casado e de Branca Lopes, moradores que foram no Fundão, (O irmão é o referido sob o nº 814 desta lista),  de 25/6/1729 a 28/6/1729.
PT-TT-TSO/IL/28/6932                   

865   Brites Pereira ou Beatriz Pereira, x.n., de 16 anos, natural do Teixoso e moradora no Fundão, filha de Rodrigo Mendes, x.n., ferrador e de Maria Pereira, natural de Celorico, moradora que foi no Fundão, casada Manuel Rodrigues Morão, neta materna de António Fernandes e Brites Nunes, naturais de Celorico, bisneta de João Lopes e Ana Rodrigues, pais da avó materna, trisneta de Manuel Lopes, x.v., barbeiro e Mécia Pereira, x.n., pais do bisavô João Lopes; de Josefa Rodrigues, mãe da bisavó Ana Rodrigues; tetraneta de Manuel Lopes, x.v. e Brites Antunes, x.v., pais do trisavô Manuel Lopes; e de Diogo Pereira, x.n., alfaiate e Leonor Mendes. x.n., pais da trisavó Mécia Pereira. Faleceu no Souto da Casa, Fundão, em 3/10/1730. (A mãe, o marido, os irmãos germanos e consanguíneos são os referidos sob os nºs 856, 812, 720, 869, 467 e 820 desta lista), de 4/5/1729 a 29/1/1761.
PT-TT-TSO/IL/28/8664

866      Francisco Nunes de Paiva, x.n., de 22 anos, sem ofício, solteiro, natural e morador na Covilhã, filho de Francisco Nunes de Paiva, x.n., cirurgião e de Leonor Henriques, x.n., neto paterno de Gaspar Rodrigues ou Gaspar Rodrigues de Paiva e de Leonor Henriques e materno de Manuel Nunes Sanches, x.n., médico, natural de Idanha-a-Nova e de Guiomar Nunes, natural de Monsanto, moradores que foram na Idanha e em Alpedrinha, bisneto de Henrique Fróis e de Maria Nunes, pais do avô materno e de Marcos Mendes e de Violante Rodrigues, pais da avó materna, (O pai, a mãe, o filho e os irmãos são os referidos sob os nºs 524, 875, 848, 850, 853, 863, 905, 950, 968 e 976  desta lista), de 30/12/1729 a 22/6/1731.
PT-TT-TSO/IL/28/2294                    

867      Manuel Rodrigues Franco, x.n., de 67 anos, sapateiro, natural de Penamacor e morador na Covilhã, filho de Francisco Rodrigues Franco, x.n., mercador de sola e de Maria Rodrigues Franco, x.n., viúvo de Leonor Rodrigues, de 24/1071729 a 23/6/1731.
PT-TT-TSO/IL/28/1812                    

868      Gaspar Mendes Morão, x.n., de 28 anos, espingardeiro, solteiro, natural de Idanha-a-Nova e morador no Fundão, filho de Gaspar Mendes ou Gaspar Mendes Morão, ferreiro, natural de Idanha-a-Nova e de Ana Mendes, natural do Fundão, neto materno de Jorge Rodrigues Morão ou Jorge Henriques, ferreiro, natural de Idanha-a-Nova e de Brites Ribeiro, natural de Proença, bisneto de João Henriques Morão, x.n., ferreiro e de Ana Mendes, x.n. pais do avô materno; e de Diogo Nunes e de Mécia Nunes, pais da avó materna e trisneto de Diogo Nunes Morão e de Mécia Nunes, pais do bisavô João Henriques Morão; Luís Vaz e Isabel Lopes, naturais e moradores de Proença-a-Nova, pais do bisavô Diogo Nunes; e de Francisco Roiz e Brites Ribeiro,  pais da bisavó Mécia Nunes, (A mãe e os irmãos são os referidos sob os nºs 608, 555, 587 e 768 desta lista), de 10/9/1729 a 17/6/1731.
PT-TT-TSO/IL/28/11771-2   

869      Diogo Mendes, x.n., de 18 anos, solteiro, sapateiro, natural e morador no Fundão, filho de Rodrigo Mendes, natural de Idanha-a-Nova e Maria Pereira, natural de Celorico, moradores no Teixoso, neto materno de António Fernandes e de Brites Nunes, bisneto de João Lopes e Ana Rodrigues, pais da avó materna, trisneto de Manuel Lopes, x.v., barbeiro e Mécia Pereira, x.n., pais do bisavô João Lopes; de Josefa Rodrigues, mãe da bisavó Ana Rodrigues; tetraneto de Manuel Lopes, x.v. e Brites Antunes, x.v., pais do trisavô Manuel Lopes; e de Diogo Pereira, x.n., alfaiate e Leonor Mendes. x.n., pais da trisavó Mécia Pereira. (A mãe e os irmãos germanos e consanguíneo são os referidos sob os nºs 856, 720, 865 e 820 desta lista), de 18/6/1727 a 3/7/1731.
PT-TT-TSO/IL/28/8888

870     Maria Henriques, x.n., de 22 anos, solteira, natural de Penamacor e moradora na Covilhã, filha de Simão Rodrigues, x.n., sapateiro, natural de Monsanto e de Branca Rodrigues, x.n., natural do Fundão, neta paterna de Francisco Rodrigues e de Mécia Fernandes e materna de Gaspar Rodrigues e de Catarina Lopes, bisneta de António Rodrigues e de Isabel Nunes, pais do avô materno e de Francisco Rodrigues e Branca Lopes, pais da avó materna, (O pai, a mãe, ela e os irmãos são os referidos sob os nºs 833, 849, 721, 722, 782, 806, 837 e 871 desta lista) de 4/10/1728 a 18/6/1731, reconciliada em auto público de 13 / 10 / 1726, presa 2ª vez pelas mesmas culpas.
PT-TT-TSO/IL/28/1821-1


Fonte – Os dados em itálico foram retirados do “site” do ANTT – Arquivo Nacional da Torre do Tombo relativo aos processos do Tribunal da Inquisição.
Esta lista, tal como as anteriores, é da autoria dos editores.
Na cota dos processos, as indicações IL/28, IC/25 e IE/21 referem-se aos tribunais, respectivamente, de Lisboa, Coimbra e Évora.

As Publicações do blogue:


Estatística baseada nesta lista dos sentenciados na Inquisição:

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Covilhã - Contributos para a sua História dos Lanifícios XIV


Continuamos a apresentar documentos sobre o comércio ilegal, um assunto que atravessa os séculos, abarca variados produtos e pessoas e mantém o poder em constante alerta. Na opinião de Luiz Fernando Carvalho Dias o contrabando de panos é um dos factores que contribuiu para a concorrência, muitas vezes desregrada.
Estamos em 1846, no reinado de Dona Maria II, período, a todos os níveis, bastante conturbado. Primeiro lemos uma carta dirigida à Rainha e assinada por representantes dos fabricantes da Covilhã. Nela se faz referência ao contrabando de panos espanhóis e ao uso de panos ingleses que prejudicam a população fabril da Covilhã. Dadas as dificuldades verificadas, pedem para continuarem a fornecer o tecido para os fardamentos do exército. Em seguida uma missiva ao Governador Civil sobre o assunto. Num terceiro documento o governador Civil envia a petição à Rainha, mas informa também que muitos dos fabricantes da Covilhã são contrabandistas, que ele não conseguiu erradicar o problema e por isso aqueles devem ser punidos. Numa portaria ao Governador Civil diz-se que "Auxiliando o ped.º dos Fabricantes, pede elle s’ adoptem providencias contra o abuzo que estes comettem." 

Representação dos Fabricantes da Covilhã – Informação do Governador Civil – informação do Ministério do Reino 
 
Sobre a conveniência de se evitar o contrabando de laníficios na Covilhã, como contrario ao progresso das Fábricas e grave prejuízo da população d’aquella villa a qual é essencialmente fabril.
 
Dona Maria II
 
R.C. N.º 1790 L3.º

Senhora

   Os abaixo assignados Proprietarios, Negociantes e Fabricantes da Villa da Covilhaã e subditos fieis de Vossa Magestade, vendo com a maior satisfação com quanto acolhimento acaba Vossa Magestade de receber a geral expressão das verdadeiras necessidades dos Povos que a Providencia Divina tem confiado ao seu Reinado, e de manifestar que a felicidade d’ elles he todo o seu Real dezejo, tractando em Sua Alta Sabedoria de pôr termo a todos os aggravos publicos, de tranquilizar a Nação, e de satisfazer da maneira mais completa aos justos dezejos d’ ella; não podem deixar, nem de fazer subir em occaziaõ taõ solemne, e de tanto apreço, a expressão do seu mais respeitozo e profundo reconhecimento para com a Augusta Rainha dos Portuguezes pela ineffavel prova que acabaõ de receber de Sua Real Solicitude sobre a necessidade d’ elles; nem de expôr quaes sejaõ os d’ esta Villa, supplicando o remedio de que tanto carece.
   A antiga Villa de Covilhaã, toda manufactora que he, por que o mesmo simples Proprietario, ou Lavrador senão sustenta, decahido que seja o giro do Commercio d’ ella, merecera sempre aos Senhores Reis Augustos Predecessores de Vossa Magestade huma particular attenção: as suas Fabricas tem hum lugar na Legislação Portuguesa. Em tempo antigo, quando mesmo se manufacturavão os pannos pelo velho regimento chegarão a merecer a aceitação da Côrte e com preferencia aos Estrangeiros: hoje com o novo processo de fabrico, mais breve, mais aperfeiçoado, e geralmente uzado nas Nações estranhas, as manufacturas da Covilhã estaõ apprezentando huma perfeiçaõ por certo superior às o velho regimento, e que subirá de ponto se tiverem a fortuna de merecer a protecção do Governo de Vossa Magestade.
   Mas he forçozo confessar / por que as necessidades de hum povo naõ devem occultar-se a seu Soberano / a decadencia actual de seu Commercio, e a cauza d’ esta, a falta de extracção dos seu artefactos, e de seu consumo; falta a que se pode assignar por causa a do na dos pannos Estrangeiros, tanto Hespanhoes que o Contrabando nos introduz, como dos pannos Inglezes. A milhor de todas as Leis pragmaticas he o nobre exemplo da Côrte; uzaõ todas seus tecidos nacionaes, mais Portugueses seraõ os subditos de Vossa Magestade uzando os nossos. Superiores aos das Nações Estrangeiras estaõ por certo os tecidos de seda e algodaõ de Portugal; graças ao progresso dos conhecimentos, ao zelo, e ao patriotismo; e se tanto não pode dizer-se quanto aos tecidos de laã, o seu na, mediante a Proteçaõ de Vossa Magestade os elevará ao gráo de perfeiçaõ que revalize com os estrangeiros.
   O numeroso povo d’ esta Villa, Senhora, maduro tambem já para a liberdade, por que acaba de dar provas de sua moderação e docilidade he digno de milhor sorte: grande he o empenho dos donos e administradores de fabricas e mais fabricantes em empregarem seus operarios de continuo; porem escasseando sobre maneira o consumo das fazendas, o subido preço das Laãs no anno ultimo, e a baixa dos pannos no actual naõ pode deixar de diminuir-lhes seu commercio e diminuido fica o emprego dos operarios, e por natural consequencia diminuirá a população da terra.
   Eis, Senhora, a confissaõ franca e sincera dos Supp.es e eis sua respeitoza petiçaõ, de que supplicaõ e esperaõ o Real Differimento, que he proprio da Regia Solicitude de Vossa Magestade, como urgente petiçaõ de seus subditos sempre fieis, e que sempre tem merecido ser esta Villa contemplada com huma boa parte do fornecimento do panno para o fardamento do Exercito, confiando de que o continuará a ser, e de que o verdadeiramente patriota, sabio, e Providente Governo de Vossa Magestade na mais deixará de protegela.
Por tanto. 

        P.ª Vossa Mag.e  Fidellissima Haja por bem de acolher esta ferverosa supplica em Sua Alta e Real Benevolencia e Contemplaçaõ para serem os supp.es providos de remedio.

Covilhaã  8 de Junho de 1846.//.
                                                              E R M.e 

P.e Joaõ Nunes Mouzaco
Filippe da Costa Freire do Amaral Bottelho
O conego Antonio de Sousa Tavares d’ Azevedo Castelo Branco
O Prior de S. silvestre Manuel Luiz Serrano
O P.r de Santa Maria Joze Nunes Mouzaco
O Prior de S. Pedro Joaquim Joze Ribeiro d’ Oliveira
O P. or da Conceição Gregorio Joze Paes
O P,e Manuel Nunes de Moraes
O P.e Pedro Na.tº de Figd.º
O P.e Manoel dos Santos Paulo
O P.e Antonio Joze dos Rejs
O P.e Bernardo António de Sampaio e Lemos
O P.e José da Silva Morais
O P.e Bernardino Salvador
O P.e João Gomes da Roza
O P.e António Nunes Mousaco
O P.e Martinho da Costa França
O P.e José Rodrigues Salvador
O P.e Bernardo António da Silva
O P.e Francisco de Assis
O P.e Francisco Nunes Mousaco
O P.e José Nicolau Alves
O P.e José Pedro Carqueija
Tomaz António de Sousa Pimentel
Brás António Camolino
O B.el João Pereira Ramos de Carvalho
Francisco Camolino
António Cezário de Sousa Tavares
José de Sousa Tavares
Bernardo de Almeida de Lemos
Joaquim José Correia
O B.el Manuel Nunes Jacinto Mousaco
Francisco d’ Oliveira Grainha
José Valério Paes
José Nunes Jacinto Mouzaco
Manuel Nunes Mouzaco
Diogo José Roiz (1)
José Joaquim Pereira de Carvalho
José Nunes Jacinto Nunes
João António de Figueiredo e Almeida
João da Costa Trenas
Francisco Garcia
José Maria Nogueira
Manuel Fernandes Nogueira
José dos Santos Paulo
Francisco dos Santos Paulo
João Pereira Cadência
António Alves Roiz Caetano
António Nunes Mouzaco
Bernardo Tavares
José Marques Dias
José Dias de Ascensão
Bernardo Tavares Júnior
José Caetano Rato
Francisco Cerveira de Almeida
António Mendes Soares
Francisco Roiz Antunes Castanheira
José Jacinto da Silva
Clemente Ferreira
António de Amaral
João Carlos Craveiro
João Borges Correia
António da Costa Trenas Coelho
Benevenuto José de Macedo
José Fernandes Pereira
Francisco Freire Corte Real
António Maria das Neves
José da Cruz Moreira
Francisco Bernardo Roque
José da Costa Rato
Tomás José Mendes
José Paulo Nogueira
Porfírio José Nogueira
António João Almeida Saraiva de Brito
José Maximino de Vasconcelos Cabral
Januário Gomes Feio
José Bernardo Roque
João António de Oliveira
Francisco Roiz Salvador 

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Illm.º e Ex.mº Snr. 

   Dizem os habitantes da Vila de Covilhã signatários da Representação junta, que tendo deliberado fazer subir à presença de Sua Magestade Fidelíssima aquela sua conscenciosa e respeitosa petição, em que expõe as necessidades de sua Pátria, e lhe dirigem os protestos de seu maior reconhecimento e obediência, como cumpre a subditos fiéis; os suplicantes não podem tambem por esta ocasião, deixar de dirigir a V. Exª os seus mais sinceros agradecimentos pelas acertadas medidas que a Sabedoria de V. Ex.ª tem empregado para o restabelecimento da ordem e da paz, a fim de respeitar-se a acção reguladora do Governo; certos e confiados estão os mesmos suplicantes que a perspicácia, sabedoria, e rectidão de V. Exª continuará como é próprio de tão conspícuo Magistrado, e de que em outro tempo este Distrito recebera já provas inefáveis, a fazer a protecção, e felicidade dele, e assim confiados na mesma protecção, os suplicantes oferecem à censura de V. Exª. aquela sua Representação para que achando-se conforme com as necessidades que expõem, se digne fazê-la subir ao Governo de Sua Magestade. Portanto.              

                                      P. a V. Exª Senhor Governador Civil de Distrito
                                      se digne tomar esta com a inclusa na sua sábia
                                      consideração
E R M.e 

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2.ª D. 2ª Rep. L3 Nº. 70
Governo Civil de Castelo Branco
1ª Direcção
Nº 71
                                                                                  Illm.º e Ex.mo Snr.
                                                                                     R.C. Nº 1790 L3.º 

   Tenho a honra de remetter a V. Ex.ª a inclusa Representação que os Proprietarios, Negociantes, e Fabricantes da Villa da Covilham dirigem à presença de Sua Magestade a Rainha, e na qual os signatarios protestão a sua adhesão e obediencia à Mesma Augusta Senhora, apontão a origem da decadencia das Fabricas d’ aquella Villa, e pedem providencias para a prompta e facil extracção dos seus artefactos.
   Como informo à referida Representação tenho a honra de dizer a V. Exª que a Villa da Covilham é essencialmente manufactureira, - que o sustento de seos numerosos habitantes, e o augmento de sua populaçaõ, dependem da prosperidade dos seos estabelecimentos fabrís: Convenho com os signatarios em que o uso dos pannos Ingleses, e o Contrabando dos panos Hespanhóes, é um dos maiores obstáculos ao desenvolvimento da nossa indústria fabril, no entanto devo declarar a V. Exª que durante a primeira epocha da minha administração n’ este Districto, fiz todos os esforços para evitar a introducção dos pannos Hespanhóes sem que o pudesse conseguir, por que os proprios Fabricantes da Covilham érão os maiores Contrabandistasque não só introduzião já promptos os panos Hespanhóes, os nacionalisavão pondo-lhes o sello das suas Fabricas; mas até mandavão vir de Begar a lam já fiada e tinta, e com ella fabricavão panos que vendião como fructo da industria do Paíz. Estou certo que V. Ex.ª tomará a mencionada Representação no sentido favoravel, e que apar das providencias que os suplicantes pedem, V. Exª tomará as que reclama a fé publica ultrajada, pela venda dolosa de panos estrangeiros, apresentados pelos Fabricantes, como productos Nacionaes.

               Deos Guarde a V. Ex.ª
   Castello-Branco 15 de Junho de 1846
Illm.º e Ex.mo Snr. Luiz da Silva Mousinho d’ Albuquerque

                                      O Govern.ºr Civil
                                  João José Vaz Preto Giraldes 

********                         

L3 nº 70                2ª Direcção – 2ª Repart. 

   Os Fabricantes de pannos da Villa da Covilhã ponderando que o sustento da sua população depende da prosperidade dos seus numerosos estabelecimentos fabris, de presente acabrunhados no seu desenvolvimento pela introdução e contrabando dos pannos Hespanhoes e Ingleses; pedem providencias que facilitem a extracção dos productos por elles manufacturados. D’entre as que lembrão, huã é o serem contemplados no fornecimento de panno para o exercito.
   O Gov.ºr Civil, informa ser exacto o q os Supp.es allegão, porem observa que elles são huns dos Contrabandistas, e que durante a sua primeira adm.ão fizera os maiores esforços por evitar este contrabando; sendo de notar que os Fabricantes os nacionalisão pondo-lhes as marcas das suas Fábricas.
   Auxiliando o ped.º dos Fabricantes, pede elle s’ adoptem providencias contra o abuzo que estes comettem.              

               Em 23 de Junho de 1846
 
                                                  Albano da Sylveyra

Portaria ao G. C. de Cast.º
Branco em 7 de Julho 1846 

Fonte – Arquivo do Ministério das Obras Públicas, ms. 38. (Papéis sobre o Contrabando de Lanifícios na Covilhã)
Nota dos editores - 1) Tetravô do editor.

As Publicações do blogue:
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2012/09/covilha-as-publicacoes.html

As publicações sobre os contributos para a História dos Lanifícios: 
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2011/05/covilha-contributos-para-sua-historia.html

 

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Covilhã - Mosteiro de Santa Maria da Estrela VIII



     Retomamos a publicação de mais opiniões, documentos ou referências sobre o Mosteiro de Santa Maria da Estrela deixadas por Luiz Fernando Carvalho Dias.
     Começamos com a transcrição de uma parte da Descrição de 1943 sobre a Covilhã, da autoria de Luiz Fernando Carvalho Dias, já apresentada, a propósito da Senhora da Estrela:

[...] “Correndo o olhar pelo Vale do Zêzere distingue-se já a tocar com os lodeiros, a pequena ermida de Nossa Senhora da Estrela e evoca-se o antigo Convento de Santa Maria da Estrela, ou Maceira da Covilhã, ilustrado na sua função pela legenda ingénua dos Ursos, fundado pelo voto de D. Egas Moniz e fonte perene donde escorreu prodigamente por todo o vasto domínio de casais e herdades, desde a Capinha e Sortelha até ao Côa, a sabedoria agrícola dos monges brancos de Claraval." […]
[…] “Mais ao norte, o Picoto, talhado na rocha abrupta, a esconder a Penha Furada, que Gil Vicente, conhecedor raro destes atalhos e serranias, juntou nas estrofes do Auto Pastoril Português à Senhora da Estrela, que lá para baixo mora na sua capela pobrinha das margens do Zêzere.
Chegando à Penha Furada
Àquem da virgem da Estrela
Achei ser uma donzela…”

A imagem hoje venerada nas Festas de Setembro

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      Em seguida vamos publicar uma carta de Luiz Fernando Carvalho Dias ao Director do Boletim da Casa das Beiras acerca duma questão levantada “pelo senhor X” em 1938 sobre a localização do Mosteiro: 
 
“Exmo Sr. Director do Boletim da Casa das Beiras 

Em o número de Outubro de 1938, da brilhante revista de que V. Exª é director, vem um artigo “Milagre de Senhora de Estrela” da autoria do senhor x, que peço licença para comentar. Refere-se esse artigo a um milagre da Senhora da Estrela, de que foi beneficiário Egas Moniz e ao mesmo tempo a um Convento da Senhora da Estrela fundado posteriormente por Lourenço Viegas. Porque esse artigo está em contradição com a verdade histórica, ou pelo menos com documentos que ao mesmo convento se referem, limitar-me-ei por agora a expôr o que no mesmo artigo me parece fantasia, e o que nele há de verdade.
Sobre o que aparece no artigo como fantasia literária nada direi. Quanto a factos históricos:
- O Convento de Santa Maria da Estrela ficava situado no termo da Covilhã, hoje freguesia da Boidobra, onde ainda existe a Capela da Senhora da Estrela e a Quinta da Abadia.
Provas: 1º O documento de arrecadação de esmolas para a guerra pontifical – 1329 in Fr. Manuel dos Santos.
2º Testamento de D. Afonso III.
3º Memória dos Mosteiros de S. Bernardo segundo a visitação sobre as rendas dos mosteiros no tempo de D. Manuel, em 1498.
4º Catálogo de todas as Igrejas, Comendas e Mosteiros que havia no reino de Portugal e dos Algarves, nos anos de 1320 e 1321.
5º Várias obras referentes à ordem de Cister, que poderia citar.
6º A tradição existente nas freguesias do termo. 

Panorâmica actual dos terrenos que rodeiam a Capela da Senhora da Estrela.
As fotografias foram tiradas por Miguel Nuno Peixoto de Carvalho Dias
 
       Fr. Bernardo de Brito a ele se refere na sua Crónica de Cister, embora a verdade deste historiador sofra há tempo de pouca veracidade, mas logo Fr. António Brandão que é reputado historiador sério vai na peúgada de Fr. Bernardo de Brito, declarando que viu um pergaminho do Mosteiro de Cárquere em que se refere ao milagre da Senhora da Estrela a Egas Moniz – milagre que foi a base da fundação do Convento. Nem um nem outro o localizam. Para quê? Se todos nesse tempo o conheciam e lhe sabiam a situação, tanto mais que o Cardeal-Rei o incorporou em 1570 no Colégio de S. Bernardo de Coimbra, juntamente com mais duas casas de Cister: Tamarães e Convento do Espírito Santo de Coimbra! Que este foi o mosteiro que o abade de Maceiradão mandou reconstruir, não resta dúvida; o testamento de D. Afonso III e a memória da Guarda referem-se ao convento de Maceira da Covilhã; que é o de Santa Maria da Estrela também não resta dúvida do documento do mesmo tempo, citado por Fr. Manuel dos Santos; que não era convento novo, também está patente no facto de continuar a pertencer á linha de Alcobaça.
Portanto o Convento de Santa Maria da Estrela estava situado à beira da Covilhã; este convento é aquele que a tradição diz ser fundado pelo filho de Egas Moniz, Lourenço Viegas, em memória do milagre dos Ursos, este foi o convento mandado reconstruir pelo D. Abade de Maceira Dão; este convento é o mesmo que ardeu em vésperas do Natal.
        Posto isto, que mais desenvolvidamente apresentarei numa memória sobre o Convento de Santa Maria da Estrela, que presentemente estou a preparar, vejamos onde o Senhor X confundiu: imaginou e quiz fazer história. Diz este Senhor “muitas pessoas em cumprimento de vários votos lhe doaram os seus bens, como Ausedes e sua esposa”! Esta confusão provém de o dito senhor querer localizar, a toda a força, o Convento da Senhora da Estrela em S. Romão de Seia, e apresentar dados históricos a favor da sua tese. Porém tudo se desfará se soubermos que em S. Romão de Seia existiu nesse tempo um Convento de Cruzius, a quem, segundo Fr. Nicolau de Santa Maria, na sua Crónica, doaram todos os seus bens, na verdade, um tal Ausendus e sua mulher! Toda a pretendida interpretação que se quer fazer através do Elucidário de Santa Rosa Viterbo, é vã: nem do Capítulo Schola nem da palavra Civitas se lhe colhe alguma coisa para fundamentar esta patusca história de um Convento da Estrela em S. Romão de Seia. Existe aí, na verdade, uma capela da Senhora da Estrela. Mas isso não basta. Uma Capela com o mesmo orago existiu em S. Paio de Gouveia e, no entanto, ninguém se lembrou de dizer que foi ali o Convento de Santa Maria da Estrela, voto de Egas Moniz e, portanto, dos frades de Cister.” (1)