quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Covilhã - Para a História da Guarda VII


Depois de algumas publicações sobre os Judeus da Guarda, continuamos a apresentar reflexões não revistas de Luiz Fernando Carvalho Dias e respectivos documentos sobre a História da Guarda que foi cabeça de comarca da Covilhã.

Hoje damos notícia do terceiro documento: É um manuscrito da Biblioteca da Ajuda. Trata-se de uma cópia coeva do relatório da primeira visita ad sacra limina do Bispo da Guarda D. Francisco de Castro (1618-1653) (1) feita por procuração ao Papa Paulo V (2).
           O antecessor deste prelado foi D. Afonso Furtado de Mendonça que, saído da Guarda, presidiu às igrejas de Coimbra e primacial de Braga. Deste bispo parece existir um relatório, o anterior, mas mais circunstanciado. Dele faz referência D. Francisco de Castro. Aonde parará? A riqueza noticiosa de tais relatórios é evidente, embora tão pouco aproveitados pela história local, apesar do que oferecem para determinar, por exemplo, a evolução das terras, da sua população, etc, não só no aspecto eclesiástico como económico. Assim este relatório mostra-nos como a população da Covilhã diminuiu da indicada no cadastro de 1530 - o que está de acordo com as crises dos seus lanifícios e êxodo dos cristãos novos.
           Não está datado,  mas referindo-se ao primeiro triénio da administração de D. Francisco de Castro e coincidindo o terminus do triénio, sensivelmente, com os últimos dias do pontífice, há-de reportar-se ao fim do ano de 1620 ou princípios de 1621. É uma descrição geográfica, eclesiástica e económica da diocese e da cidade. O seu interesse reside nas particulares notícias da diocese que engloba toda a Beira Baixa desse período e na justeza das suas informações, (designadamente dignidades do Cabido, suas rendas e funções delas)
A Sé da Guarda


           Assim: Depois de abordar sumariamente a história da diocese refere-se à Igreja Catedral, ao orago da Assunção da virgem, ao Cabido, aos beneficiados e às rendas que resultam só dos dízimos e permícias e como se distribuiam. Adiante descrimina as igrejas da cidade, suas capelas e confrarias; alude ao seminário, edificado no fim do século XVI pelo bispo D. Nuno de Noronha, e ao sistema do ensino praticado nele, destinado não somente a futuros clérigos, mas também a seculares e aos seus mosteiros. Segue-se a divisão do bispado, com 33 léguas de comprido e dez de largo, com a indicação das igrejas, ermidas, padroeiros e benefícios, comendas e rendimentos e confrarias; as vilas de que se compõe, com a indicação dos vizinhos e número de lugares ou freguesias, e conventos e organização eclesiástica.
Por fim dá razão doutras coisas que cabem ao prelado, como visitações anuais e sínodos e aos párocos e modo de sua execução, como, por exemplo, a obrigação de fazerem o rol dos fregueses maiores e menores, provimentos das igrejas paroquiais. 

3º Documento  

Relatório da Visita ad sacra limina do bispo da guarda D. Francisco de Castro (1618-1629) ao papa Paulo V (1605-1621) 
Descrição da Sé

Orago: Assunção da Senhora
Não é sagrado, não tem claustro
A Capela do santíssimo é o orago de S. Bartolomeu. 

Rendas das Igrejas do Bispado resultam do dízimo e premissias
Rendas da mesa Episcopal: 22.000 cruzados
9 Comendas da ordem de Cristo
Jantares (dinheiro, frutos, outras coisas)
1/3 dos dízimos do distrito da cidade
Rendas da Mesa Capitular
300 prebendas (375 cruzados cada uma)
a saber

Deão = 3 prebendas + frutos da igreja de Valverde = 1.160 cruzados
Chantre = 2 prebendas + frutos das igrejas da Vela e Vila Franca = 800 cruzados
Mestre Escola = 1 prebenda + 1/3 dos frutos da igreja de Sobreira Formosa = 650 cruzados
Arcediago do Bago = 1/10 dos dízimos do distritoa da cidade + 1/3 dos frutos da igreja do Fundão = 500 cruzados
Tesoureiro = 1 prebenda e 1/3 dos frutos de Sobreira Formosa e Vila Fernando + as permícias da Catedral + 1 prebenda = 1.250 cruzados.
Arcediago de Celorico = 1/10 dos dízimos das Igrejas de Celorico = 400 cruzados.
Arcediago da Covilhã = 1/10 dos dízimos das igrejas do distrito = 450 cruzados.
22 canonicatos = 4 canonicatos magistrais e 2 do privilégio de Alexandre VI
12 Capelães cujos réditos foram deixados em testamentos e últimas vontades e memória de defuntos 
Cantores
Sacristão, Porteiro da Maça, Moços de Coro, Organista, Sineiro
4 Confrarias na Sé: a) Ssmº Sacramento; b) Nª Srª da Conceição; c) Nª Srª do Rosário; e d) Clérigos pobres. 
Provisor; Vigário Geral; 3 Desembargadores; Promotor Fiscal; 5 escrivães; Inquiridor; Distribuidor, Contador das Custas; Solicitador da Justiça; Porteiro, Aljubeiro.
Bispado

260 Igrejas paroquiais
570 Ermidas
42 Comendas de Cristo
2 Comendas de S. Bento de Avis
3 Comendas de S. João de Jerusalém
670 Confrarias
16 Conventos

Não há Monte da Piedade

2 Cidades
33 Vilas
Aldeias
Montes 

6 Distritos

a) Cidade ou Aro
b) Covilhã
         c) Penamacor
d) Monsanto
e) Castelo Branco
f) Ouvidoria de Abrantes 

População da Diocese – 70.000 vizinhos 

Covilhã: 900 vizinhos a vila; 13 freguesias (vila); 43 freguesias; 100 lugares; 2 mosteiro; 1 mosteiro no Fundão; Arcipreste, escrivão e meirinho 
Penamacor: 800 vizinhos a vila; 3 paroquiais, 24 em todo o distrito; 1 mosteiro; Arcipreste, escrivão e meirinho. 
Monsanto: 400 vizinhos; 2  paroquiais; 23 paroquiais; Arcipreste, escrivão e meirinho.
Castelo Branco: Mais de 1.000 vizinhos; 2 igrejas conventuais; 30 igrejas paroquiais; 2 Mosteiros de Homens, 1 Mosteiro de Mulheres; Arcipreste, escrivão e meirinho. 
Abrantes: 2.000 vizinhos; embarcações ordinárias para Lisboa; 4 Igrejas; 20 paroquiais; 4 Mosteiros; 1 Mosteiro no Sardoal; Arcipreste, escrivão e meirinho. 

Notas do autor - 1) D. Francisco de Castro (1574-1653) também foi reitor da Universidade de Coimbra e Inquisidor Geral.
2) Manuali Hoepli – Cronologia e Calendario perpétuo, A. Cappelli, in Tavole Cronologia (1605 – Janeiro de 1621), 2ª edição. 

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