terça-feira, 12 de junho de 2012

Covilhã - Contributos para a sua História dos Lanifícios XII


Como já referimos em Inquéritos I, iniciámos a apresentação do Inquérito Industrial de 1802, mas decidimos publicar neste tema – Contributos para a História dos Lanifícios – as tabelas ou mapas, mas somente os relativos à Covilhã, ou os que com ela se relacionassem. É o que vamos hoje editar.

I - Apresentámos: “O corregedor da Comarca de Castelo Branco informa, que ela se acha em total decadência a respeito de Fábricas […] porque como a Comarca é fértil, havendo consumidores de frutos, e mais misteres, cresce o dinheiro, e por consequência crescem também os braços para as artes, e para a agricultura. […]
Hoje publicamos:

Mapa das Fábricas da Comarca de Castelo Branco

Sítios
Fábricas
Estado
Operários
Símplices
Manufactura

Castelo Branco


Chapéus


Lãs

Decadente

30

98


Chapéus

Panos
Alpedrinha
Lãs

126

Panos
Belmonte
Lãs

670

Panos
Castelo
Novo
Lãs


9

Panos

Sabugal
Chapéus

Lãs



1

172

Chapéus

Panos
S. Vicente
Lãs

303

Panos
Sortelha
Lãs

460

Panos
Touro
Lãs

187

Panos


Museu dos Lanifícios, Núcleo da Real Fábrica de Panos
Fotografia de Miguel Nuno Peixoto de Carvalho Dias


II - Apresentámos: “O Superintendente Geral das Fábricas de lanifícios das três Comarcas dá uma ideia […] E sem remeter o mapa da Real Fábrica, cuja factura diz ficar a cargo de seus Administradores, nem o das mais Fábricas das Comarcas anexas à sua jurisdição, que diz em 6 de Março de 1802 estava fazendo. […]
Hoje publicamos:

Mapa das Fábricas da Comarca da Covilhã
Sítios
Fábricas
Estado
Operários
Símplices
Manufacturas
Consumo








Covilhã

De
Lanifícios de D. Brites Maria Teodora de Castro, que se compõem de 6 potros, 2 urdideiras de mão, 1 engenho de torcer e urdir, 28 teares, 1 maceira, 2 perchas, 2 prensas, 17 tesouras, 8 tabuleiros, 4 perchas inglesas, 3 caldeiras, 1 telha, 6 râmulas, 1 grudadoiro


514; a saber, 6 na casa do obrador, 4 na da urdideira, 3 na dos fiados, 27 na dos teares grandes, 10 na dos teares pequenos, 6 na do pisão, 16 na da tenda, e prensas, 5 na da tinturaria, 2 na da chapa, 27 nas escolas de Valezim, Sortelha, Malcata e Quadrazais, Sabugal, Meimão e Ameais, Sarzedo, e Vide, e 407 fiadeiras









Covilhã

De
Lanifícios do sargento-Mor António José Ramos, que se compõe de casa de obrador, de urdideira, de teares, de pisão, de tinturaria e de tenda que compreende  3 râmulas


50; a saber, 1 escadurçador; 2 cardadores; 1 urdidor, e 3 enroladores; 25 na casa dos teares, 8 na do pisão, 3 nada tinturaria e 7 na da tenda, além das que se ocupam na fiação e cardagem, que se acham dispersos








Covilhã

        De
Lanifícios de José Mendes da Veiga, que se compõe de casa de Obrador, de teares, de pisão, de prensa, de tinturaria e de râmulas


70; a saber, 10 cardadores, 15 na casa dos teares, 10 na do pisão, 13 na da prensa, 14 na da tinturaria e 8 nas râmulas, além das fiadeiras dispersas








Covilhã



        De
Lanifícios dispersa pelas casas dos habitantes da Vila, com 85 teares com pisões, 6 tinturarias e tendas


205; a saber, 508 fabricantes, 1020 cardadores, 254 tecelões, 25 pisoeiros, 110 ocupados nos pisões, 39 na casa da tinturaria e 49 nas tendas, tesouras e prensas









Covilhã
       
         De
Lanifícios do Cap. Simão Pereira da Silva que se compõe de 2 pisões, de 2 tinturarias com 6 caldeiras e 4 dornas, de 21 râmulas e das mais oficinas para tosar, prensar e lustrar





91; a saber, 28 nos pisões, 18 na tinturaria, 40 nas oficinas de tosa, prensa e lustro e 5 administradores












Celorico





         De
Lanifícios do Cap. Simão Pereira da Silva que se compõe de uns engenhos de carduça, de 1ª e 2ª carda de nova invenção, de desengrossar os canudos de lã para se fiar o barbim e trama além das oficinas ordinárias



409; a saber, 2 a variar a lã, 15 a escolher os argueiros, 32 cardadores, 300 fiadeiras, 6 mestras de ensinar a fiar, 2 rapazes para urdirem as peças, homens para fazerem a grude, 20 tecelões, 10 rapazes para encher canelas, 10 mulheres para tirarem os nós, 2 mestres cardadores e tecelões, 2 administradores além dos 2 maquinistas que fizeram os engenhos de nova invenção, e de 16 rapazes que os movem.












Panos, baetões, silésias, droguetes e cobertores



III - Apresentámos: Nº 11 […] Covilhã 30 de Março de 1802. Do Dezembargador Superintendente das Fabricas da Covilhã e Comarcas anexas. João Roiz Botelho […]
Hoje publicamos:

Mapa das Fábricas de Lanifícios existentes nesta Vila de Covilhã

I

Nesta vila de Covilhã há uma fábrica de lanifícios erigida por D. Brites Theodora de Castro, viúva de José Henriques de Castro, a qual se compõem das máquinas seguintes:

Caza d’Obrador

Seis potros e cardas precisas, e mais trastes em que se ocupam … pessoas 

Caza da urdideira

Duas urdideiras de mão, um engenho de torcer, e urdir com os trastes anexos, em que se ocupam 4 pessoas

Caza dos fiados

Nesta casa se ocupam três pessoas 

Caza dos teares grandes

Nesta casa se ocupam, e existem catorze teares com o necessário, e trastes conjuntos, em que se ocupam, a saber, um mestre, oito oficiais, doze aprendizes, seis caneleiros e por todos vinte sete

Caza dos teares pequenos

Nesta caza existem trez teares grandes, onze pequenos com os trastes anexos em que se ocupam um mestre, cinco oficiais, quatro aprendizes, são dez pessoas 

Caza do Pizão

Uma Maceira. Duas perchas, com os trastes necessários, em que se ocupam um mestre, cinco oficiais, e por todos são pessoas seis 

Caza da Tenda e Prensas

Nesta caza existem duas prensas. Dezassete tesouras, oito taboleiros e quatro perchas inglesas, com os trastes necessários. Ocupam-se um mestre, doze oficiais, tres aprendizes e por todos dezasseis pessoas

Caza da Tinturaria

Nesta caza existem três caldeiras grandes, uma mais pequena, duas dornas com aprestos necessários. Ocupam-se um mestre, quatro operários e por todos cinco pessoas 

Caza da Chapa

Uma telha de bronze para dar lustro aos baetões 

Caza do Carpinteiro

Um mestre e um oficial

Seis râmulas

Um grudadouro
Escolas

Na Vila de Valezim – Escoleiros seis
Cardadores, treze
Em Sortelha, dois
Malcata e Quadrazais, um
Sabugal e Meimão e Ameais, um
Sarzedo, três
Vide, um
Fiadeiras empregadas na fiação de lãs desta escola quatrocentas e sete

Resumo de todas as pessoas empregadas nas manufacturas destas fábricas são quinhentas e quatorze


II

Mapa das Fábricas de Lanifícios erigidas pelo sargento Mór António José Raposo 

Caza de Obrador 

Um escarduçador
Dois cardadores

Com os trastes necessários 

Caza da urdideira 

Um urdidor
Três encarroladores

Com os trastes necessários

Caza dos teares 

Vinte e um teares preparados, em que se ocupam as pessoas seguintes 

Um mestre
Oficiais treze
Aprendizes onze 

Caza do Pisão 

Duas maceiras, Seis perchas, com os necessários aprestes, ocupam-se as seguintes pessoas

Um mestre
Sete oficiais 

Caza da Tinturaria 

Duas caldeiras, uma dorna e todos os aprestes necessários, ocupam-se nela as pessoas seguintes 

Um mestre
Dois oficiais 

Caza da Tenda 

Existe uma percha, Dois taboleiros, Uma prensa. Ocupam-se nela as pessoas seguintes 

Um mestre
Quatro oficiais
Dois aprendizes

Tem três râmulas 

Resumo das pessoas ocupadas nesta Fábrica são cinquenta

Além das que se ocupam na fiação e cardagem das lãs que têm nas escolas dispersas por várias terras.


III 

Mapa da Fábrica de Lanifícios erigida por José Mendes Veiga 

Caza do obrador
Cardadores, dez

Caza dos Teares

Cinco teares grandes em que se ocupam pessoas quinze

Caza do Pizão

Tem duas perchas, uma maceira, Duas perchas inglesas, Em que se ocupam dez pessoas 

Caza da Prensa

Duas prensas, Quatro tabuleiros, Dezassete tesouras. Ocupam-se neste exercício treze pessoas 

Caza da Tinturaria

Duas caldeiras. Quatro dornas. Ocupam-se no seu exercício quatorze pessoas.

Râmulas – sete, em que se ocupam oito pessoas

Pessoas               70

Resumo das pessoas empregadas nesta Fábrica são setenta 

Além das que se ocupam na fiação das lãs nas Escolas que tem dispersas por vários lugares


IV 

Nesta Vila da Covilhã há uma fabricância de tecidos de lã dispersa pelas casas dos seus habitantes, cujo número são hoje quinhentos e oito, entrando os dos lugares anexos

Cardadores, mil e vinte
Teares, oitenta e cinco em que se ocupam duzentas e oitenta e quatro pessoas
Pizoeiros vinte e cinco
Pessoas ocupadas nos pisões, cento e dez
Tinturarias seis em que se ocupam trinta e nove pessoas
Tendas, tesouras, e prensas cinco, e no que se ocupam vinte pessoas
Ourineiros em todos os pizões doze
Encarduçadores desassete

Pessoas       2005


V 

Há mais uma fábrica Real cujo mapa se há-de remeter à Real Junta do Comércio pelos administradores dela segundo declararam, e por isso não vai compreendida neste.


VI 

Há mais uma fábrica erigida pelo Capitão Simão Pereira da Silva, cuja laboração e máquinas que nesta trabalham assim como as pessoas nela ocupadas constam do mapa junto que ele deu e assinou.

É o que consta haver nesta Vila e lugares anexos. Covilhã 2 de Abril de 1802. Eu João de Moura Barata Feyo escrivão da Superintendência o escrevi.
João de Moura Barata Feyo


Relação da gente que ocupa a minha fábrica de Lanifícios a qual é erigida nesta Vila de Covilhã e na de Celorico da Beira, e gosa de Privilégio Real pelo alvará régio que Sua Magestade me concedeu em 31 de Julho de 1788. O seguinte (sic) 

Em Celorico ocupa o seguinte 

  2 – Homens a variar a lã.
  15 – Mulheres a escolher, e tirar os argueiros à lã.
  32 – Cardadores a emborrar, imprimar, e encanudar a lã.
300 – Fiadeiras com rodas para fiarem, barbim, trama, e ourelas.
    6 – Mestres para ensinar a fiar e para asparem o fiado.
    6 – Rapazes a encarrolar o fiado para se urdir.
    2 – Rapazes para se urdirem as peças.
    2 – Homens para fazerem grude em oficina própria para este ministério com três caldeiras, e os mesmos servem para grudarem as teias em dois grudadores com assistência do Mestre.
   20 – Tecelões com seus teares bem preparados de liços em cujos vinte teares se tecem panos, baetões, silézias, droguetes, e cobertores; e os panos que se tecem são de contos 18.nos 20.nos 22.nos 24.nos e 26.nos.
   10 – Rapazes para encher as canelas, e alguns deles já vão tecendo quando falta algum dos tecelões, e em cada tear tece uma pessoa só à maneira ingleza com suas lançadeiras de ferro com carretas.
   10 – Mulheres para tirar os nós às peças tecidas que saiem dos teares.
     2 – Mestres de cardadores, e tecelões para ensinarem os aprendizes nos seus competentes ramos, pago tudo à minha custa.
     2 – Administradores

 ____

409      Soma 

Agora tenho conseguido com o maior desvelo e despeza põr em execução uns grandes engenhos feitos por dois maquinistas Irlandeses que de propósito mandei vir não só para os fazer mas também para ensinarem a manobra dos ditos engenhos, e são os seguintes.

             Um engenho de carduça para abrir lã.
             Um engenho de primeira carda para emborrar e impremar.
                         Um engenho de segunda carda para encanudar.
               Estes três engenhos são movidos por bois com sua entrosga e é uma máquina admirável e nesta laboração se ocupam somente seis rapazes e fazem cessar a precisãodos dois variadores e 32 cardadores ou ainda mais porque os tais engenhos podem cardar muito mais do que os ditos 32 cardadores.
               Um engenho de desengrossar os canudos de lã para se fiar barbim.
               Um engenho de desengrossar a lã para se fiar a trama.
               Estes dois engenhos ocupam dois aprendizes e oito rapazinhos. Quatro engenhos de fiar barbim e trama e tem cada engenho 52 fusos que por todos fazem 208 e fazem a mesma fiação que podem fazer 208 fiadeiras porque estas fiam cada uma em sua roda com um só fuso. Nos ditos quatro engenhos somente se ocupam, quatro aprendizes para cada um seu, e tenho esperanças de combinar estas cousas ao ponto de ter fiados para toda a qualidade de tecidos; por ora andam as máquinas movidas por bois porém estou disposto a mandá-las armar por água para que o movimento seja mais certo, mais suave, mais pronto. Conservo o maquinista, e o mestre para ensinar, e são irlandezes, e isto com avultados salários e despesas, e ainda espero outra família que mandei vir para me dizerem que executarão inda com maior perfeição e tendo mostrado a maior constância para conseguir poder ser útil ao Estado, ao público e à pobreza fazendo a deligência para que as manobras se executem com maior comodidade afim de podermos competir com os estrangeiros, e também evitar o ocupar muita gente por ser precisa e necessária não só para a Agricultura de que temos tido tanta necessidade mas inda mesmo para as tropas quando são precisos recrutas. Estes engenhos são os únicos que há no Reino para os lanifícios e ainda mesmo os não há em muitos Reinos porque o seu invento é de moderno, e principiou em Inglaterra e Irlanda. 

               Da Vila de Celorico da Beira passam as fazendas tecidas para esta de Covilhã, aonde tenho admiráveis edifícios não só para os tecidos da minha própria conta mas inda para mandar beneficiar os do público, e são os seguintes:
               Um edifício com dois pisões, quatro perchas de ar, e duas à moda ingleza e nela se ocupam as seguintes pessoas.
                 2 - Operários para assistirem às máquinas dos pizões e para armarem os palmares de cardo e o mais preciso.
                 8 - Operários para as quatro perchas do ar.
                 8 - Operários para as quatro perchas inglesas e tudo com a assistência dum mestre desta oficina.
               10 - Mulheres ou casas em que se esbicam os tecidos depois de lavados.
               E tem este edifício uma caldeira para aquecer águas, e desfazer o sabão, etc.

Tinturarias 

               Um edifício de tinturaria em que se tingem todas as cores, superfinas e ordinárias, e tem cinco caldeiras grandes para a laboração e duas dornas para tingir azul.
               Outro edifício de tinturaria com três dornas e uma caldeira e somente serve para nela se tingir azul e estas duas oficinas ocupam dois mestres e 16 operários, e aprendizes além de muitas pessoas que conduzem lenha para o gasto das ditas tinturarias.
               21 – Râmulas em que se enxergam os tecidos e de cada vez podem enxergar 50 peças ou cortes.
               Um edifício de várias oficinas de tozar, prensar, e lustrar os tecidos.
               Tem 32 tesouras de toza, quatro prensas com suas platinas de ferro, papel competente e tudo o necessário para as ditas prensas. Uma plancha de bronze para lustrar os baetões e é uma pessa perfeita e nestas oficinas se ocupa a gente seguinte:
               16 – operários para oito taboleiros de Toza.
                 8 – operários para o exercício das prensas e lustrar.
                 8 – operários para enxugar as fazendas.
                 2 – alfaiates.
                 2 – pregadores para pregar as peças.
                 3 – carpinteiros.
                 2 – mestres para estas oficinas.

               Tudo administrado por mim, por meu filho e por três genros que todos vigiam pela perfeição e por tudo passar na verdade como ser pedido passo esta em Covilhã 15 de Março de 1802.
Simão Pereira da Silva

Nota dos editores – Como estamos a notar que a consulta dos leitores vai ser difícil, não voltamos a publicar separadamente documentos e mapas.
Fonte – Luiz Fernando Carvalho Dias, “História dos Lanifícios (1750-1834)”, Documentos IV-V

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