sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Covilhã - Pedro Álvares Cabral IV


Celebração do Centenário de Pedro Álvares Cabral
Apresentação do Conferencista Padre Dr. Silva Rego

            Antes  da conferência que vamos ter o privilégio de escutar e por amável deferência do Senhor Presidente da Câmara, cabe-me (1) a honra de proferir algumas palavras à maneira de intróito, como que a responder à curiosidade dos presentes.
            Assim:
            À Cidade cumpre-me apresentar o ilustre orador desta sessão. Ao orador, meu amigo, quereria dizer o que é a nossa cidade.
            A todos gostaria de sintetizar as razões da celebração do Centenário de Pedro Álvares Cabral, na Covilhã.
            O Prof. Doutor António da Silva Rego, catedrático da Universidade Técnica de Lisboa é Professor do Instituto Superior dos Estudos Ultramarinos, conferencista de largos recursos e historiador e membro da Academia de História.
            Natural de Joane, no concelho de Vila Nova de Famalicão, estudou no Seminário de Macau onde se ordenou. Da cidade do Santo Nome de Deus partiu para Singapura e aí paroquiou durante dez anos. O Cardeal Costa Nunes, então Bispo de Macau, escolheu-o depois para frequentar a Universidade de Lovaina e elegeu-o como historiador do Padroado Português do Oriente.
            Dessa escola tão conhecida no mundo da cultura frequentou o Padre António da Silva Rego a Faculdade de Letras; aí se licenciou em História em 1942.
            Regressado a Portugal iniciou uma vasta e profunda pesquisa nos arquivos portugueses, destinada à sua monumental História das Missões do Oriente, trabalho de investigação e apurado sentido crítico, que viria a ser publicado sob o patrocínio da Agência Geral do Ultramar. As suas duas dezenas de volumes dão a medida da capacidade do investigador e da elevada categoria mental do conferencista desta noite.
            Porém o seu trabalho de pesquisa não se circunscreve aos arquivos portugueses; frequenta vários arquivos estrangeiros; neles recolhe novos e preciosos elementos para a sua já referida História das Missões.
            Entretanto o Sr. Dr. Silva Rego é convidado pelo Prof. Marcelo Caetano a ensinar na Universidade Técnica de Lisboa onde professou as seguintes disciplinas: História do Ultramar Português, História da Colonização Moderna e Missionologia.
             Infatigável trabalhador não se contenta com a docência universitária. Organiza instrumentos de trabalho para os seus alunos e através de lições primorosas, claras e de alto sentido crítico, renova o ambiente dos estudos históricos da sua Escola.
            No Centro de Estudos Históricos Ultramarinos, de que é Presidente, funda e dirige uma filmoteca, primeiramente destinada a preservar os arquivos da Índia Portuguesa; assim e ainda antes da Invasão, mercê do seu esforço e boa vontade, esses arquivos foram devidamente fotografados e os filmes trazidos para Lisboa e posteriormente relacionados em trinta e tantos volumes duma notável colecção impressa.
            Ao mesmo tempo o Prof. Silva Rego, sem interromper a sua carreira magistral, dirige a revista Studia, cujo alto nível entre as revistas portuguesas da especialidade é notório e os seus já vinte e tantos volumes honram qualquer centro de cultura.
            Sob o patrocínio financeiro da Fundação Calouste Gulbenkian e ainda no programa do Centro de Investigação Ultramarina, preside o Prof. Silva Rego à publicação dos índices e de centenas de documentos chamada “Gavetas da Torre do Tombo“. Destina-se tal colecção a servir de instrumento de trabalho de cultura aos estudiosos da história do nosso país, quer nacionais quer estrangeiros.
            Todos os anos o ilustre conferencista é convidado a deslocar-se ao estrangeiro. Em muitas das mais célebres Universidades do Mundo tem servido a cultura portuguesa, proferindo conferências notáveis e apreciadíssimas.
            Dentre as suas obras desejo destacar o Curso e Lições de Missionologia; Presença de Portugal em Macau; Dupla Restauração em Angola; Relações Luso-Brasileiras; Regimentos relativos à Colonização em Angola, Brasil e Índia, onde se reunem uma série de conferências pronunciadas nas Universidades da África do Sul; A sua já referida História das Missões Portuguesas no Oriente, ou a História do Padroado e por fim as lições de Metodologia e Crítica Histórica que constitui um brinde para os estudantes portugueses porque através deste livro se ensina como se prepara e se escreve um trabalho de História.
            A nossa cidade sente-se honrada em receber, dentro dos seus muros e neste salão nobre, tão ilustre embaixador da cultura e da ciência de Portugal.
            Essa honra é tanto maior, Prof. Silva Rego, quanto é certo que V. Exª é um trabalhador incansável, encanecido primeiro no trabalho árduo e activo das Missões do Oriente e depois no Ensino e na Investigação.
            A Covilhã, que é uma terra de trabalho, admira e venera aqueles que não se contentam com o “dolce fare niente“, mas que consagram a existência à vida activa e à cultura.
            Cidade relativamente nova, mas vila muito antiga, a Covilhã gosta de ser apresentada aos que a visitam como terra progressiva, onde o trabalho esforçado abre aos seus filhos novos caminhos e onde as camadas sociais, conscientes da sua função e do seu valor, não adormecem na estagnação dos séculos, mas se renovam constantemente.
            Aos lanifícios devemos este extraordinário incentivo, e por isso, quando a inconsciência alheia nos apelida de lanudos ou lanzudos temos a consciência de que é a voz da incapacidade invejosa que move os nossos detractores.
            Florença, a mais bela cidade do Mundo, pátria da Renascença, alicerçou na lã o seu prestígio e sua cultura. Nós o sabemos.
            Deste ninho de águias que é a nossa montanha sagrada - a Estrela - saíu para a realização do grande sonho das Descobertas  um dos mais ilustres conterrâneos nossos - Pêro da Covilhã, misto de viajeiro e de diplomata, que se antecipou ao Gama na descoberta do Ouro e da Pimenta e desvendou em cartas e mapas a D. João II muitos dos mistérios do Oriente.
            A vida aventurosa de Pêro da Covilhã e o seu cativeiro na Etiópia, cativeiro e não deserção, serviço à política de segredo dos Descobrimentos, merece a nossa evocação e o nosso respeito, nesta sessão solene em que comemoramos uma outra figura da Expansão Portuguesa - Pedro Álvares Cabral - e com ela quantos covilhanenses que no passado e no presente, trocaram o doce regaço da terra mãe pelo convívio de “desvairadas gentes“.
            Pedro Álvares Cabral é uma figura quase lendária pelas circunstâncias misteriosas em que se processou o achamento do Brasil e pela carência de precisos dados biográficos sobre a sua pessoa.

Missa no Brasil: Portugueses e Índios

            Há que ligá-lo à terra donde brotou, à família donde como ave de grande porte abriu as asas para o seu grande e inefável destino.
            Natural do vizinho concelho de Belmonte - seus pais possuíam bens na Covilhã; aqui ficava uma das mais estimadas propriedades da sua família; aquela com que el-rei D. Pedro pagou ao futuro Bispo da Guarda D. Gil, os honorários do casamento com D. Inês; aqui casou ou aqui encontrou a esposa seu irmão João Fernandes, que dorme o eterno sono, no Convento de S. Francisco, na Capela de Jorge Cabral, seu filho; nesse mesmo Convento ficou a memória de um tio avô do descobridor, Luiz Fernandes de Gouveia, benemérito dos frades e doador de algumas penas de água; os Gouveias, donde provinha D. Isabel, mãe do descobridor, além de senhores de Valhelhas, possuíam terras dentro dos limites da Covilhã, do Rio Zêzere contra Covilhã; Jorge Cabral, sobrinho de Pedro Álvares tão afeiçoado era à Covilhã, terra de sua mãe D. Joana Coutinho, que nela quis ficar sepultado, como refere o cronista franciscano Padre Manuel da Esperança, embora a arca dos seus ossos tenha sido há anos levada para Belmonte; a Jorge Cabral, que no dizer de Damião Peres, cabe a honra de mandar pintar os valiosos quadros do Palácio da Fazenda de Goa, devemos o célebre altar com o Santuário, hoje na Capela dos Terceiros, pois o trouxe da Índia para ornamento da sua capela. Este Santuário foi há anos vandalisticamente truncado. Na mesma capela de Jorge Cabral existia ainda no século XIX  um curioso retábulo com os Mistérios de Cristo, mandado pintar pelo mesmo Governador da Índia.
            É natural que Pedro Álvares Cabral tivesse visitado várias vezes as propriedades paternas na Covilhã e no seu concelho e se tivesse reunido com o irmão e os sobrinhos no velho Palácio de D. Rodrigo de Castro, heróico Governador de Tânger, encostado à muralha da Covilhã, e olhado da janela manuelina que tantos de nós ainda conhecemos, o Pelourinho, a fértil várzea do Zêzere, a Judiaria da Covilhã donde saíram os astrólogos Diogo Mendes Vizinho, os irmãos Faleiros e os Ximenez, estes origem de banqueiros europeus e de aristocratas romanos da Renascença; as oficinas primitivas dos teares covilhanenses e os tintes e pisões que então começavam a aflorar nas margens da ribeira de Goldra e, ainda lá longe, olhasse a silhueta aristocrática do velho Paço de Belmonte e suas futuras propriedades do Sarzedo.
            Porque o pressentimos aqui estamos hoje a prestar-lhe esta homenagem, idêntica àquela que os nossos antepassados lhe prestaram quando lhes chegou a nova do achamento da Terra de Vera Cruz.

Nota dos Editores – 1) A apresentação do conferencista foi feita por Luiz Fernando de Carvalho Dias.

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