terça-feira, 4 de outubro de 2011

Covilhã - Invasões VII

Termina hoje a apresentação de testemunhas neste auto de devassa, para que sejam castigados os moradores da Covilhã que se passaram para o lado estrangeiro na invasão franco-espanhola de 1762.

Sebastião José de Carvalho e Melo, Conde de Oeiras, Marquês de Pombal
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«TRESLADO DAS TESTEMUNHAS QUE FALTAVAM PREGUNTAR NA DEVASSA DA INCONFIDENCIA POR IR O TRESLADO PRIMEIRO ATÉ AO NUMERO 19 (sic), SENDO A ULTIMA QUE NELE ASSINOU JOÃO LOPEZ DE MORAES E AGORA NESTE VÃO AS ONZE QUE FALTAVÃO PARA O NUMERO DA LEI, E TAMBÉM VÃO AS REFERIDAS QUE FAL­TAVÃO PARA PREGUNTAR NO PRIMEIRO TRESLADO, EXCEPTO UMA, QUE SE ABSENTOU LOGO NO PRINCIPIO DA DEVASSA E SE NÃO SABE PARTE CERTA DONDE ASSISTE, COMO NO FIM SE DECLARA».
Assentada = 9 de Agosto de 1763. Em casa de Doutor Constantino Barreto de Sousa, juiz de fora e orfãos na Covilhã - Escrivão o mesmo.
1.º Luis de Macedo Castelo Branco, alferes-mór da vila da Covilhã e dos principais dela, natural e morador na Covilhã, de 38 anos.

O Pacheco foi preso para Castelo Branco. Diz que o Barroca serviu constrangido.

2.º O Capitão-Mór João Soares Henriques de Novais, natural e morador na Covilhã, de 36 anos.
Filipe Pacheco de Aragão Cabral era o nome do alcaide intruso. Ventura Jose Rato era filho natural do Pacheco. O Boaventura e o Barroca serviram constrangidos, assim como os porteiros. Mas o Barroca quando chegou à serra disse que o Governo era bom mas depressa acabou.
3.º O Doutor Filipe de Macedo Castelo Branco, natural e morador na Covilhã, de 44 anos.
 O Pacheco constrangeu os outros. Ventura José Rato era filho natural de Pacheco.
A testemunha é casado com uma sobrinha direita do Pacheco.

4.º Capitão Custódio Rodrigues da Cruz, natural e morador na Covilhã, de 70 anos. Estava doente quando do assalto dos inimigos. Foi chamado pelo Pacheco para ir à presença do Marquez Comandante das tropas inimigas, com três soldados espanhois granadeiros. Disse que não podia ir por doente mas disse-lhe o Pacheco que mandasse a seu filho. Este foi ao Convento de S. Francisco «a tempo que já se achava assinada uma escritura de consignação de grande quantia de dinheiro depois do que entrou o dito governador a fazer grandes violências aos moradores desta terra com embar­gos de pão e remessa de panos da ribeira e casas particulares, para o Convento de S. Francisco desta vila». O Pacheco «mandou à cidade da Guarda pedir tropas para conservação da sujeição de El Rei de Castela, por parte do qual disse o dito governador a ele testemunha, que Portugal requiescat in pace, a que responderam os soldados espanhois – Amen».
5.º O Dr. António Mendes Bordalo, advogado nos auditórios desta vila, dela natural e morador, de 52 anos.
Pensa que o Barroca aceitou o lugar com violência. 

     6.º João Baptista Cardoso Teixeira, escrivão da Câmara, de 63 anos.
O governador «expôs ao comandante das ditas tropas aonde se achavam panos, prata e tudo o mais que os moradores desta vila ocultaram e lhe foi tirado por violência tudo quanto soube o dito governador; este mandou ditar vários bandos pelos porteiros Francisco Rodrigues Salgado e André Malaca com pena de morte, para que levassem tudo ao sítio de S. Francisco, aonde também chegou António Fernandes Rato com alguns panos seus e de várias pessoas, por cuja causa tomou por testemunhas daquele incidente a ele tes­temunha e ao guardião de S. Francisco e ao presidente». 

7.º José Homem de Brito Castelo Branco, natural e morador na Covilhã, de 53 anos.

Assentada = 11 de Agosto de 1763 os mesmos.

8.º José Pereira Coutinho Forjaz - natural e morador na Covilhã, de 63 anos.

Assentada = 10 de Setembro de 1763

9.º  Dr. António Mendes Seixas, advogado nos auditórios da Covilhã, natural e morador na Covilhã, de 50 anos.
Saiu com sua familia, em 20 de Agosto, para o lugar de Boa Aldeia, 2 léguas de Viseu, já com receio das tropas inimigas e aí esteve até ao 1º de Novembro e regressou a 3 de Novembro;
«e que pelos ditos pregões se lhe entregaram quantidade deles (panos) sendo também um dele testemunha que se achava na Ribeira e parte de outros que se lhe cortou em o tear».
10.º  Manuel de Morais Leitão, oficial de ferrador, natural da vila de Manteigas, morador na Covilhã, de 60 anos.
«Ouvira dizer publicamente que António Fernandes Rato blasfemava por não haver defesa pelos nossos soldados à invasão do inimigo, queixando-se, por este modo, da má administração da justiça do Governo, por cuja causa fazia grande sociedade com os soldados inimigos».
11.º  Dezidério Caetano Coelho, boticário, natural e morador na Covilhã, de 24 anos.
Assentada = 13 de Setembro de 1763
12.º Manuel da Silva, pomareiro no Pomar da Misericórdia, arrabalde desta vila, de 50 anos.
13.º Maria Teresa, solteira, filha de Manuel Rodrigues Padez, oficial de tecelão, natural e morador na Covilhã, de 30 anos. Deu aos soldados pão, queijo, pimentões e vinho e encheu-lhes as botelhas de vinho o que lhe quiz satisfazer com dinheiro João Salvador, mas ela não quiz aceitar.
14.º Luísa Rodrigues, viúva de João da Cunha, quinteiro na quinta derrubada, arrabalde desta vila. No dia de S. Bartolomeu, pela manhã, foram lá ter Ventura José, com João d'Oliveira desta vila e 5 soldados franceses; perguntando-lhe o dito Ventura por 40 alqueires de trigo, disse que os tinha dado de pensão ao seu amo Dr. Filipe de Macedo Castelo Branco. João d'Oliveira pediu-lhe conta da junta de bois e do gado, mandado retirar para a serra; abriram portas e arcazes. Respondeu ela «que os sobreditos bois tinham levado uma carrada de panos a Vila Velha que eram para as tropas de S. M. Fidelíssima».
Assentada = 30 de Setembro
15.º João Bernardo da Cruz, vive de sua fazenda e agência, natural e morador na Covilhã, de 55 anos.
16.º Manuel Fernandes Branco, natural e morador na Covilhã, oficial de ferrador, de 56 anos.
17.º  António Ribeiro Soares, que vive de sua fazenda e agência, natural e morador na Covilhã, de 61 anos.
Assentada = 1 de Outubro de 1763.
18.º  Francisco Mendes Catrapam, oficial de carda, natural e morador na Covilhã, de 40 anos. Trabalhava em casa de João Baptista Rebelo.
Ao João Baptista Rebelo foram pedir trabalho 7 soldados franceses e castelhanos, com Lino Martins e Manuel Ferreira, por ser estanqueiro do miúdo. Respondeu que não tinha, pois já tinha entregado o tabaco ao admi­nistrador. Deu-lhes um pouco de tabaco de folha que tinha em uma panela, e pão, queijo e vinho.
19.º  António Coelho, jornaleiro, d'Aguiar da Beira, morador na Covilhã, de 44 anos.

Conclusão = 3 de Outubro de 1763 - a testemunha João da Costa Leítão ausentou-se no principio da devassa.
Despacho = 3 de Outubro de 1763 -que os autos sejam remetidos ao Juizo da Inconfidência.

Termo da data, 3 de Outubro de 1763. 

Certidão, de Manuel Coelho d'Almeida, escrivão judicial por provimento do Corregedor da Comarca, conforme a testemunha João da Costa Leitão desapareceu.

Fizeram-se autos de sequestro aos bens de António da Fonseca Barroca, de Filipe Pacheco de Aragão e de Manuel António de Figueiredo, em 8 de Outubro de 1762. Na cadeia da Vila acham-se presos António da Fonseca Barroca, António Rebelo o mouco, e os porteiros Francisco Rodrigues Sal­gado e André Malaca.

Faleceram na prisão José da Costa Aleixo e Manuel António de Figuei­redo e António Francisco Leitão, o fandango.
Covilhã, 6 de Outubro de 1763
Sinal. Manuel Coelho de Almeida

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