segunda-feira, 4 de julho de 2011

Covilhã - No 1º Centenário de Elevação a Cidade



     Hoje publicamos este texto escrito pelo autor para a pagela de apresentação dos selos postais comemorativos do 1º centenário da elevação da Covilhã a cidade. A importância do selo como meio de ligação entre pessoas e prova de pagamento de serviços postais nasceu em 1840 no Reino Unido e em Portugal em 1853, quando D. Maria II fez a reforma dos Correios. Podemos ainda considerar o selo um instrumento de cultura e uma fonte para os estudos históricos e até geográficos. Exemplificamos com estas estampilhas, cujos motivos estão ligados ao brasão e à vida industrial da cidade.    

Foi J. H. Fradesso da Silveira, emissário da Regeneração, na década de 1860-70, quem chamou a atenção do liberalismo para o curioso fenómeno social e económico da Covilhã, vila desde os alvores da nacionalidade, realenga por graça do Venturoso, notável por mercê de D. Sebastião, e terra com largo contributo espiritual, científico e heróico na gesta dos descobrimentos.
            Alheia aos bandos políticos do séc. XIX, fechada numa saudade teimosa pelo Rei D. Miguel I que aclamou duas vezes e a quem deveu, a favor do povo, o caducar dos privilégios daqueles que ao depois formaram a aristocracia dos comendadores, imagem covilhanense dos barões de Garrett, a Covilhã concentrou todas as suas forças de desenvolvimento na indústria de lanifícios, cujos alvores nela recuam ao último quartel do séc. XV, e, sempre que, em Portugal, estadistas de vanguarda como o Conde da Ericeira e o Marquês de Pombal, tentaram arremeter com a rotina e programar um surto industrial, vieram inspirar-se nas suas técnicas e no seu espírito inovador.
            Sem estradas nem caminhos-de-ferro para acompanhar a revolução industrial, nem por isso os então novos maquinismos ingleses e franceses deixaram de trabalhar na Covilhã, graças à energia dum povo cheio de vontade.
            Quando outros ficaram ensimesmados, constrangidos por caducas estruturas agrárias, a cidade dos Hermínios cedo se acostumou ao periódico e contínuo renovar das suas elites e a estimar, com sentido social, aquela eterna verdade, por vezes tão esquecida, de que foi pregoeiro no século XVI o nosso Frei Heitor Pinto: o Sol quando nasce é para todos.
            Daí as lutas clássicas desta cidade pela liberdade do comércio e da indústria, com larga projecção na documentação política dos sécs. XVII e XVIII, desde os documentos de Cortes aos processos inquisitoriais.
            Além de berço de Heitor Pinto, luminar do Renascimento português, glória das letras e da liberdade da Pátria; de Pêro da Covilhã, precursor do Gama; do judeu Vizinho, tradutor de Zacuto e cientista da Junta dos Matemáticos de D. João II; dos irmãos Faleiro, inspiradores, técnicos e colaboradores de Magalhães na primeira volta da circum-navegação do globo e de cinco mártires da fé de Cristo, todos seus filhos, a Covilhã notabilizou-se sobretudo como centro de trabalho e de iniciativa.
            De certo, a estas duas qualidades da sua gente ficou a dever a mercê de cidade, outorgada em 20 de Outubro de 1870 pelo Rei Popular (D. Luís), a velha vila de D. Sancho I, a minha terra muito amada.
                          
    (Outubro de 1970)                                               

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