segunda-feira, 23 de maio de 2011

Covilhã - Contributos para a sua História dos Lanifícios - IV

IV
Lista de Panos em Portugal

 Não resistimos à tentação de agrupar algumas qualidades de tecidos que aparecem nos nossos documentos, sujeitando-as a uma sistematização, técnica aliás já tentada por alguns escritores estrangeiros para os panos das suas nações.
Uma vista de relance sobre a longa nomenclatura registada, imediatamente nos põe em frente das grandes cidades e vilas manufactureiras do Norte da Europa, da Itália, da Espanha e até de Portugal em épocas mais próximas. O técnico moderno facilmente também compreenderá o sentido de muitos termos que ainda perduram na nomenclatura dos panos.
Em vésperas de 1580 recolhemos esta lista de panos em Portugal, alguns dos quais referidos num processo da Inquisição de um mercador covilhanense, a que adiante faremos referência:
Saragoças – Em 1577 varia o preço do côvado de 133 rs. a 320 rs.. É impossível determinar se a diferença de preço depende da largura do tecido ou, se dentro deste tipo de fazenda há qualidades melhores ou piores. A mesma observação nos leva a fazer aos restantes tipos de pano. No ano de 1578 há referência à Saragoça simples, cotada a 280 rs. e à Saragoça vintequatrena cotada a 290 rs.. Em 1579 fixa-se para o mesmo tipo de tecido o valor de 340 rs. As saragoças chegaram até nós com a forma de um tecido grosseiro de cor acastanhada. Como se depreende do nome, trata-se de um tecido idêntico aos importados primitivamente de Saragoça.
Palmilha – A palmilha valia entre 264 e 300 rs. em 1578 e no ano seguinte cotava-se entre 340 e 360 rs. Parece tratar-se de um pano azul, visto que nos termos do regimento de 1690, as baetas só podiam tingir-se em preto, quando fossem de azul tão bom como as palmilhas subidas.
Fiorentino – Como a saragoça, também este pano é do tipo dos panos italianos de Florença. Corria o côvado a 340 rs. em 1579.
Panos brancos e pretos – de 2.400 fios ou vintequatrenos, como as saragoças, também o tipo normal de pano, preto ou branco, podia ser mais ou menos largo, conter mais ou menos número de fios.
Os brancos de 2.400 fios orçavam em 1577 por 220 e em 1578 por 200 rs.
Os pretos, também de 2.400 fios aviados em 1577 a 260 rs., em 1578 a 230 rs., e em 1579 a 340 rs.
Pano Verdezo – certamente tecido de cor verde, avaliava-se em 1578 a 240 rs e em 1579 a 340 rs.
Pombinho – valia 310 rs. em 1579.
Pano mourisco ou mourisqueiro – lembra esta denominação os panos importados das terras de mouros. Em 1577 valia 260 rs.
Picote – cremos tratar-se de pano que mais tarde se chamou picotilhos. Era o pano mais baixo que Gonçalo Vaz, de quem adiante falaremos, despachou neste ano; também os frades o utilizaram, pois em 1577 ou 1578 o mesmo mercador vendeu-o aos padres de S. Francisco de Évora. Antes de tingido valia 180 rs. e em verde 190 rs. ou 200 rs., em 1577; em 1578, sem cor, de 170 a 180 rs; no ano seguinte de 160 rs a 190 rs., também em branco.


Nota dos editores – À medida que a organização e publicação do espólio de Luiz Fernando Carvalho Dias avança, consideramos necessário lembrar que toda a documentação e reflexões existentes se encontram manuscritas em dezenas de pastas, cadernos e folhas soltas, sem referência à altura em que foram produzidas. Também muitos dos textos escritos não tinham tido a finalidade de serem publicados e portanto não foram objecto de revisão do autor. Assim, pode acontecer depararmos com uma ou outra dúvida ou até aparente contradição explicável por uma evolução na sua pesquisa.

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